domingo, novembro 23, 2014

O Princípio de Pareto









Por vezes, parece haver circunstâncias que vão e regressam como o vaivém das ondas do mar. Ele há os ditames da moda que, de quando em vez, fazem um regresso ao passado, ele há a utilização de palavras que ciclicamente têm maior tendência a ser proferidas, ele há “novas” atitudes que são resgatadas algures no tempo, ele há estados de espírito que parecem revisitar-nos. Ou seja, a história parece querer repetir-se! Talvez por mera coincidência, talvez fruto do clima que se vive, talvez decorrente do contexto social, ouço cada vez mais ou estou mais atento à escassez que as pessoas invocam. Foi recentemente que alguém me dizia, quando nos cruzámos: “ainda não respondi ao que escreveste porque não tive tempo”; de uma outra vez: “não vou ter tempo para ir ter contigo”; ou talvez uma mais comum: “desculpa ter chegado atrasada/o, porque a minha vida é uma correria”. Sinceramente, aprendi a dar uma relativa importância a estas situações, apesar de, na maior parte das vezes, terem impacto na vida dos outros. Não quando estamos a falar de uma atitude sem consequências ou cujo resultado é muito semelhante, mas mesmo naquelas situações em que há impactos menos positivos para os intervenientes, inclusive para aqueles que invocam “falta de tempo”. Por vezes, questiono-me: “será que esta postura não incomoda quem a pratica?”. Penso que na maioria dos casos, também não haverá tempo para parar e ponderar resultados. No fim de contas, são eles que nos permitem avaliar o bem-estar de cada um de nós. Mesmo naquelas circunstâncias em que somos atraídos para despejar os nossos momentos menos positivos como responsabilidade dos outros. Por favor, tirem o cavalinho da chuva. Olhem-se ao espelho, que é um excelente conselheiro!  
A medição do tempo é uma invenção do homem. Talvez por isso já terão reparado que os relógios e as ampulhetas só existem para orientação do ser humano. Qual a razão de termos a necessidade de nos segmentar em períodos da manhã, tarde ou noite? No entanto, seja ele qual for, temos preferência por um deles. Para trabalhar, para tomar um copo, para ver cinema, para ler. Mas depois, como todos estes períodos, adicionados, têm uma extensão de somente 24 horas, não temos tempo para ir ao ginásio durante 90 minutos dia sim, dia não; fica uma ida ao supermercado para mais tarde porque surgiu um telefonema a requerer uma presença nossa; esquecemo-nos de ligar à amiga ou ao amigo porque fomos convocadas/os para uma reunião de última hora e tudo, mas mesmo tudo, é um corre-corre. Não falando nos filhos, não falando nos amigos, não falando nos familiares, há pouco tempo para dar um generoso e sentido abraço cujo tempo pode durar 30 segundos. Mesmo quando damos um abraço, se tomarmos atenção, parece estarmos com pressa de desentrelaçar os braços……
Tendo o recurso tempo a mesma dimensão para todos nós; sendo, muito provavelmente, o mais democrático activo que temos ao nosso dispor; não me recordando de haver alguém que o possa dispensar a outra pessoa, é só nosso; quando se escoa, não há volta a dar, está perdido, não há outra oportunidade; tendo o privilégio, como em poucas coisas, de o utilizar subjectivamente e da forma que quisermos, sem que ele reclame ou conteste; por enquanto ainda não paga imposto, a não ser as consequências daquilo que semeamos; mas também remetendo-nos para uma responsabilidade de o sabermos utilizar eficientemente, como há pessoas para quem o tempo nunca chega e outras que têm sempre disponibilidade? Mas quando menciono disponibilidade não me refiro àquelas pessoas que estão sempre dispostas e prontas mas que, por vezes e chegado o momento, há algo que não permite assumir o compromisso.
Se aplicarmos o princípio de Pareto ou a também chamada regra 80/20 podemos empiricamente atestar que utilizamos somente 20% dos nossos recursos para obter 80% dos nossos resultados. E que significado podem ter os restantes 80% de recursos não utilizados?  

PEQUENO EXERCÍCIO

Utilizando um lápis, divida uma folha de papel com uma linha vertical. 

Do lado esquerdo, enuncie, pelo menos, 5 coisas que são as mais importantes para si. Importantes, não urgentes!Comece na mais importante e continue! Pessoas, coisas, ideias, actividades – seja o que for que é muito importante para si e para o seu bem-estar. Por exemplo, família, saúde, integridade, amigos, trabalho, igreja, animais de estimação, ler.

Agora, do lado direito, liste todas as coisas em que, diariamente, despende o seu tempo, começando por aquilo em que gasta mais tempo e continuando por aí abaixo. Por exemplo: trabalho, família, dormir, missões, trabalho doméstico, ajudar os filhos, amigos, reuniões.
Está feito? Agora, serenamente, confronte as respostas. Há coincidências? Se não, há algo a rever, não lhe parece?