terça-feira, janeiro 14, 2014

Acha que pode confiar na memória?


O recente e badalado falecimento de um “verdadeiro artista” do desporto nacional e internacional, levou-me a ponderar como funcionava a capacidade pessoal de armazenamento de informação.
O cérebro humano tem uma característica específica apelidada de plasticidade que lhe confere uma flexibilidade extraordinária e que lhe possibilita uma adaptabilidade às mais variadas circunstâncias. Estes factores, tal como nos reservam momentos fiáveis documentados nas nossas gravações neuronais, também podem distorcer dados que, em muitos casos, damos como indiscutíveis e inquestionáveis. Ou seja, podemos ser vitimas de “falsas memórias” e cujas consequências se podem revelar algures incómodas.
Há pessoas que, através de características de cariz hereditário ou de treino específico para o desenvolvimento das suas capacidades, conseguem reproduzir, com particular pormenorização, acontecimentos auto biográficos de há 10 anos, por exemplo, com elevadíssimas percentagens de exactidão, quando o que é vulgar é um ser humano ter dificuldade em se recordar do que se passou há 1 mês e, às vezes, nem isso.  
Perante estes dados, poderemos estar ou não perante capacidades de armazenamento de recordações mais ou menos fiáveis em função de um método e/ou de particularidades inatas? Para o efeito, foram realizadas experiências com voluntários cujos processos reconstrutivos eram propositadamente diferenciados. O primeiro estudo consistiu em enunciar listas de palavras relacionadas entre si: cama, ressonar, insónia, cama. Os participantes teriam, mais tarde, de se lembrar do maior número possível de palavras ouvidas. No final, a palavra sono que não terá, propositadamente, feito parte da lista, foi referida como tal em vários casos.
Num segundo teste, foram apresentadas imagens que foram seguidamente sequenciadas por frases faladas com o objectivo especifico de confundir o que haviam visto e o que haviam ouvido. Aqui, a confusão foi geral! O que foi referido verbalmente transformou-se em imagem e vice-versa.
A conclusão das experiências foi que, independentemente das capacidades de memorização serem extraordinárias ou vulgares, a possibilidade de distorções nas percepções e perspectivas pessoais é uma realidade. Somos todos falíveis! E mais: as diferenças reconhecidas nas experiências entre os diversos participantes foram insignificantes.
Os cientistas já alertaram os agentes de justiça para as consequências deste tipo de contaminação da memória das testemunhas. E na sua vida diária, utiliza as suas recordações com muita frequência? E toma-as como infalíveis? Tenha cuidado!
Quem não se recorda de uma música, de um adereço ou de um pormenor que está interligado a um acontecimento inigualável na nossa vida? Mas também há aqueles que nos condicionam e só num determinado e específico momento é que, de facto, tiveram lugar. Os factos são irrepetíveis; o mapa não é o território! Não é aconselhável transferir, principalmente, a carga emocional de um acontecimento para outro, como se se tratasse do mesmo. Corremos o risco de reagir inadequadamente. Há sempre um espaço temporal entre a percepção do estímulo e o momento de reacção. Esse intervalo pode ser revelador do nosso nível de consciência 
e força de vontade.