quarta-feira, setembro 14, 2011

Dois bigos!?


Ao longo da nossa “viagem” todos aprendemos, ou melhor dizendo, é bom que estejamos disponíveis para aprender. Na realidade, foi essa conclusão que levou a que o filósofo Sócrates, (cuidado com as imitações!) alguns anos a. C., a proferir a famosa frase: “só sei que nada sei”. Fê-lo já numa fase adiantada de vida, pois terá sido a experiência acumulada que terá possibilitado chegar a essa conclusão.
Como foi o que me aconteceu há alguns dias, não resisto a contar uma pequena história passada com uma criança de 6 anos. Então, a certa altura da conversa, a mãe da referida criança, sorrindo, informava que a filha, pura e simplesmente, não conseguia dizer dois umbigos e dizia dois bigos. Penso que não será preciso adicionar mais nada a esta pequena (tal como prometi) dissertação. Até o próprio corretor do dicionário do Word acusa como incorrecta a expressão “bigos”!!
O que me leva a relatar tal episódio?
Por norma, a generalidade das crianças aceita confiantemente e sem qualquer réstia de crítica (leia-se dúvida, curiosidade) positiva que o que os parentes mais próximos, professores e amigos lhe dizem não é alvo de alteração e/ou interpretação diferenciada. Se estas pessoas, principalmente os pais, as apoiam, como duvidar que o que pretendem é o seu bem? A confiança é plena, mas há alturas que as suas dúvidas surgem, causadas por algum desconforto. Quantas vezes preferem colocar-se a si próprias em causa? Este tipo de percepção acaba, mais vezes do que imaginamos, por ter repercussões enquanto adolescentes e mesmo adultos. Condicionam-nos!     
Há uma diferença, não tão reduzida como à primeira vista se possa pensar, entre a aceitação inconsciente e a aceitação consciente. Aquela é a que nos suporta em acontecimentos como o aprender a andar, o aprender a falar, o aprender a tactear.
A pura sensação de descoberta!
Já a 2ª tem impactos directos na compreensão de nós próprios e, consequentemente,  no mundo que nos rodeia e no nosso bem-estar. Inclusive, no amor-próprio.
É esta diferenciação de atitudes que nos permitirá, como seres humanos, sabermos e sermos felizes. É através deste nosso recurso, que nos diferencia de muitos outros géneros de vida, que temos a possibilidade de escolher, optar e decidir. Por algum motivo, ao longo de milhares de milhões de anos a escala da evolução natural se transformou e foi dinamizando o cérebro do homo sapiens.    
Como estou grato e satisfeito por uma criança de 6 anos me ter dado este exemplo de como utilizar os nossos recursos e fazer acreditar que as apelidadas “gerações rascas” só existem se estas crianças preferirem utilizar certos comportamentos em detrimento de outros. Por isso, uma significativa parte dos fenómenos depende da forma como os abordamos e não de intervenção alheia. O futuro está aí!
Seria ingrato se não o denunciasse, pois quem nos transmite conhecimento deve ser devidamente valorizado. Quem não gosta de ser reconhecido?
Ah, um pormenor, com 6 anos ainda não sabe ler todo este testemunho. Tenho de pedir à mãe Joana para guardar, do modo que melhor entender, esta singela redacção e a dar a conhecer à Inês quando ela for um pouco mais crescida. É bom que ela perceba que todos podemos e temos a aprender com quem nos cruzamos. Obrigado Inês! Este é o meu tributo.