quinta-feira, novembro 17, 2011

O que nos move?


Decidi partilhar convosco 2 excertos de artigos que podem exemplificar 2 distintas formas de abordarmos a vida. Talvez extremas, talvez só para alguns, talvez exemplares, mas certamente disponíveis para qualquer um de nós, desde que seja essa a nossa decisão. Os factos estão aí!
Então vamos lá ao que vos proponho:

Os longos cabelos cor de sol, os olhos azuis de céu esplendoroso, entre os tons rosados da face grave e pura como um mármore grego, a nobre elegância, suavidade e sensualidade tornavam Danielle Chiese uma doce fragrância nos círculos da alta finança e no centro das atenções como uma princesa cobiçada num reino de cortesãos.
Danielle sabia-o e tirava vantagem, com mestria, da sua sexualidade no ultra competitivo meio masculino dos edge funds do Wall Street. Deste modo, teve affairs com vários executivos, nomeadamente com Robert Moffatt, CEO da IBM, de quem obteve importantes informações confidenciais que lhe permitiram ganhar vários milhões de dólares na praça financeira de Manhattan. “Excita-me espremê-los e obter informações confidenciais dos corporate insiders”, afirmou Danielle.
Todavia, ela era apenas um bom soldado numa sofisticada organização tentacular de milhares de informadores liderada por Raj Rajaratnam, CEO da trading Galleon, que diligentemente recolhiam informações secretas em cumplicidade com altos executivos das mais importantes instituições bancárias, empresas e experts da indústria financeira.
Em resultado de uma das maiores investigações desenvolvidas pelo FBI, o Federal District Court em Manhattan, condenou Danielle e Rajaratnam, bem como grande parte dos membros deste inside trading network por fraude e conspiração financeira.
De acordo com Anil Kumar, trader da McKinseye, agora sob custódia das autoridades americanas: “era impossível resistir à oferta $500,000 de Rajaratnam para lhe providenciar inside information”.
Muito embora esta possa parecer uma história incomum, a verdade é que o Sr. Rajaratnam não é muito diferente de milhares de traders e information networks que orbitam e manipulam, em seu benefício, os mercados financeiros de todo o mundo, sendo que a maior parte nem sequer é investigada e muito menos descoberta. As pessoas estão revoltadas. Por conseguinte, um grupo denominado Onmay12.org, constituído por uma coligação de anónimos, estudantes universitários, académicos e grupos progressistas, catalisados pelos cortes sociais implementados pelo presidente da Câmara de Nova Iorque, Michael Bloomberg, manifestaram a sua indignação numa semana de concentrações de protesto em frente à sede do Goldman Sachs, em frente à sede do Bank of América e frente a Wall Street, exigindo aos banqueiros milionários que paguem os prejuízos causados. Em Portugal, a crise, consequência das decisões gananciosas de alguns banqueiros, não foi diferente. Assim, os responsáveis pela “brilhante” gestão de algumas instituições (tornadas insolventes), depois de terem recebido indemnizações que fariam corar os cleptocratas africanos, mordomias dignas de príncipes e reformas douradas, passeiam-se despudoradamente como se nada se tivesse passado.”

Professor e investigador, Universidade do Texas – EUA/Universidade Nova de Lisboa - Domingos Ferreira

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“No passado sábado, durante a Gala anual de entrega de diplomas dos mestrados executivos da minha Escola, tivemos um momento inspirador para todos.
Não se tratou de uma notícia sobre ‘rankings' ou outra distinção mediática, mas um testemunho na primeira pessoa que encarna valores que tanto procuramos disseminar, os de que o esforço, a motivação e o talento podem quebrar barreiras aparentemente intransponíveis. Ouvimos o Miguel Monteiro contar a sua história. Em 1998 era um bom aluno da licenciatura em gestão do ISCTE quando um trágico acidente na praia o tornou tetraplégico sem qualquer mobilidade. Na sequência do acidente, uma operação que correu mal tirou-lhe também a visão e a dependência que durante algum tempo teve da máquina de ventilação toldou-lhe a voz.
Anos mais tarde, com a saúde mais estabilizada, o Miguel começou a dizer aos pais que queria terminar a sua licenciatura que, entretanto, com a introdução do novo plano de estudos de Bolonha, lhe ficaria a faltar uma cadeira, a de Fiscalidade. Os pais interrogaram-se quanto à utilidade do esforço e sobretudo quanto à amplitude do mesmo, fazer a cadeira sem poder escrever ou ver. Os pedidos do Miguel subiram de tom e insistência e os pais lá acabaram por o ir matricular e depois levá-lo às aulas. Ao Miguel, custou-lhe no início o regresso à Escola, o confronto das suas limitações com a vida dos demais colegas. Citando-o, recusou-se a desistir antes de sequer tentar. Entre os pais, irmão e amigos montou um esquema de estudo assente na intensa repetição oral, esticando a memória a novos limites, absorvendo lenta mas seguramente as matérias ensinadas. Passou a visualizar mentalmente declarações de impostos, correcções à matéria colectável, casos especiais, ao mesmo tempo que repetição após repetição de leituras que lhe iam fazendo, com pausas para reflexão, começava também a navegar agilmente na legislação fiscal.
No final do semestre o seu docente de fiscalidade espantado com a fluidez de conhecimento e capacidade quis que a nota a atribuir não fosse emotivamente enviesada, pelo que o exame, necessariamente oral, foi feito por todos os docentes da cadeira. O Miguel obteve 18 valores e terminou, aos 34 anos, a sua licenciatura.
Nas suas palavras, se o mundo dá muitas voltas, ele tratou de aprender a girar. Encontrou um foco e redescobriu uma motivação, canalizando a sua energia e vontade para aquele objectivo. Ainda nas suas palavras, o acidente levara-lhe demasiadas coisas boas e ele não estava na disposição que lhe levasse mais nada. Mudou e adaptou-se. O Miguel, concluiu no fim, dizendo que tinha encontrado um caminho, o de transmitir a quem o queira ouvir, o que aprendeu e descobriu sobre mudança e motivação.
No final da sua intervenção, a sentida ovação de pé que o milhar de pessoas presente na sala lhe fez era, creio eu, uma forma simples e reconhecida de lhe agradecer, mais do que uma lição de vida, um sinal sábio de que se relativizarmos as nossas dificuldades e perdas, teremos uma perspectiva mais positiva e combativa sobre o nosso futuro.
António Gomes Mota, Professor na ISCTE

Agora que acabou, o que lhe ocorre, assim de repente? O que sente? Haverá, na maior parte dos casos e em primeira instância, uma reacção inconsciente ou uma acção consciente? Se perguntassem sobre se, em primeiro lugar, tinha dado conta de uma reacção física ou antes uma atitude pensativa, o que responderia? Como se sentia antes de ler e como se sente agora?
Outras perguntas poderiam ser equacionadas, mas talvez estas já possam indiciar o que somos e o que podemos ser! O comportamento individual faz a diferença mas, inexoravelmente, não é conveniente menosprezar a relevância que o meio ambiente representa. A unidade contribuirá para a harmonia.
A vida continua e vai continuar a girar. Até breve!