quinta-feira, maio 17, 2012

O poder da mente


Tetraplégicos apanham objectos com braços robóticos movidos pelo cérebro

In Público 16.05.2012 - 19:05 Por Ana Gerschenfeld

Dia 12 de Abril de 2011. Uma mulher de 58 anos está em casa, sentada à mesa. Pega num cantil com café, levanta-o e bebe com uma palhinha. Torna a pôr o cantil em cima da mesa. Sorri com evidente alegria perante o que acabou de fazer e toda a gente à sua volta aplaude. A celebração justifica-se plenamente: é que desde 1996, quando foi vítima de um AVC que a deixou tetraplégica, ela nunca tinha tomado um café sem ajuda.

O que fez a S3 (nome fictício) naquele dia de tão extraordinário? Imaginou que estava a mexer o seu próprio braço e que, com a sua própria mão, segurava no cantil e o levava à boca. E, ao imaginar isso, fez com que um braço robotizado — ao qual ela estava literalmente ligada através de um chip microelectrónico implantado no seu cérebro — executasse os gestos que ela comandava. Essa sua intenção motora (ou, dito de outra maneira, os impulsos eléctricos disparados intencionalmente pelos seus neurónios) fora transmitida pelo implante a um programa de computador capaz de os transformar em movimentos adequados do braço artificial. Esta e outras façanhas de S3 — e as de um segundo doente de 66 anos, tetraplégico desde 2006 e designado T2, são descritas na edição desta quinta-feira da revista Nature.

“Ainda temos muito trabalho pela frente, mas os avanços animadores destas investigações são demonstrados não só pelo sucesso [da experiência], mas ainda mais pelo sorriso de S3 quando conseguiu tomar um café sozinha pela primeira vez em quase 15 anos”, diz Leigh Hochberg, da Universidade Brown e um dos principais autores do trabalho.

 

Esta é uma fantástica façanha que possibilita confirmar as vantagens e as potencialidades do cérebro cognitivo e de interiorizarmos que a "mente" é uma das maiores armas que os humanos possuem para enfrentarem os desafios que se lhes deparam diariamente. Já outro tipo de experiências e vivências testemunharam que a neurogénese, ou seja, a criação/revitalização dos neurónios que reajem aos estímulos químicos (corrente sanguínea) e eléctricos (feixes nervosos), é, para além de uma realidade, é um dado nuclear para compreendermos o funcionamento e a dimensão qualitativa dos recursos que cada um de nós dispõe.
Os padrões mentais que estão na origem dos nossos comportamentos são reflexo da representação imaginativa que cada um de nós faz dos objectos/pessoas com que interage e/ou das situações em que se envolve.      
O cérebro leva o corpo a comportar-se de uma determinada maneira e não o contrário. Não podendo separar-se, tal como o organismo e o cérebro funcionam para permitir e melhorar a vida do indivíduo, também os vários "departamentos" neurais realizam um trabalho de equipa para proporcionar o melhor dos resultados às necessidades básicas de preservação da espécie. Se, por exemplo, estiver com um taco de golf na mão a preparar a jogada que desejo ou imaginar todas as componentes necessárias para alcançar esse mesmo objectivo, são exactamente as mesmas zonas cerebrais que são accionadas para que possa atingir essa pretensão pessoal. Já o mesmo não se passa se me colocar no papel de observador. 
Este caso paradigmático é de realçar e de relembrar em todos os cenários da vida em que pelos mais variados motivos permitimos que as emoções substimem a força íntrínseca dos padrões de actividade que gostaríamos de ver implementados.
Será que era a isto que o nosso PM se referia quando fez as recentes declarações sobre o desemprego?  
A mente acaba por ser um processo em que uma série de operações regulatórias dependem da criação ou manipulação de imagens mentais através das ideias e dos pensamentos. O organismo precisa da simbologia das imagens para responder aos estímulos externos e internos. Assim, as representações mentais podem ser de imagens externas ou internas (dor, náusea).      
Este tipo de técnicas são as que os actores utilizam regularmente na sua profissão. Por isso, seja um grande actor da sua própria vida. Como se imagina?   

domingo, maio 13, 2012

Será o sentimento de pertença?


Estalou mais uma polémica com a última capa da revista "Time"! Uma mãe a amamentar o seu filho de 3 anos.
Há quem esteja de acordo e quem não esteja. Aliás, como é salutar que aconteça. Mas não será esta foto uma imagem de marca dos finais do século passado e do ínício deste?
Qualquer mãe, na tentativa de demonstrar, o seu incondicional amor protege a sua cria (por vezes nem reparamos que é a génese da palavra criança) para que esta não se exponha ou não seja afectada pelas intempéries exteriores. Agora, uma provocação pessoal. Ou é uma maneira de esconder as vicissitudes interiores (quer pessoais, quer do ambiente onde vivem)?
Inconscientemente, ela sabe que o seu rebento, mais tarde ou mais cedo e apesar de muito lhe custar, terá de ir para a escola, terá de se haver com os colegas, terá de "sobreviver" às exigências dos professores, enfim terá de se defrontar com o meio ambiente. Então, se ela acabar por adiar o processo de sofrimento não será uma forma de demonstrar o seu ilimitado desejo de prolongar a ligação umbilical que, em tempo próprio, foi cortada e assim construir uma relação de eterno amor maternal? São estas as bases em que está construída a educação permissiva a que hoje temos o privilégio de assistir e cujos resultados se começam a vislumbrar. Tal como a foto nos demonstra, o representante no fulgor da sua 1ª infância acomoda-se, adapta-se às condições e a mãe tenta, a todo o custo, que o esforço e o empenho sejam totalmente suportados por ela, evitando assim que a energia do labor seja conhecida pelo jovem cidadão de 3 anos. Como acontecerá em muitos casos, também ela não sabe que a personalidade da criança estará formatada aos 5 anos e que, este acto complementado com outros da mesma índole, será a pedra de toque para que o processo de aprendizagem se torne mais lento e, em muitos casos, bem mais difícil do que se, porventura, a verdadeira experiência de vida se tivesse iniciado mais cedo. 
Por natureza a criança é curiosa e quer mexer, explorar. Faz parte! Não há, na maior parte dos casos, a noção de perigo. Ela procura saber o que tem de fazer para alcançar determinado objectivo que para o caso é indiferente. Se a alimentação é um acto básico de sobrevivência, para o qual não está preparado, o que se passará no resto das situações? Brincar com os outros meninos, inter relacionar-se com os adultos, divertir-se sozinho...
Muito provavelmente a tentação de superproteger também irá ter reflexos na interiorização de medos que o poderão acompanhar na 2ª infância e prolongar-se na vida sem que muitas vezes percebamos determinados factos para os quais temos o dedo imediatamente apontado. 
Numa percentagem muito elevada, o sentimento de posse é-nos mais vezes prejudicial do que benéfico. E em relação aos outros?