domingo, agosto 24, 2014

É verdade? É mentira?





Algures no tempo, perguntei a uma pessoa conhecida se mentia. Assim, de supetão! A resposta também foi instintiva. Não, não minto! Depois de mais uma insistência, repetiu a informação subconsciente que havia proclamado. A pergunta não era específica acerca do modo de mentir. Era até muito vaga. No entanto, a convicção ficou expressa. Quantas vezes por dia nos deparamos com esta possibilidade? De simplesmente transmitir verbalmente uma opinião que não está de acordo com as nossas sensações? Talvez mais vezes do que pensamos e/ou gostaríamos mesmo de admitir.

As inter-relações têm diversas fases e diferentes estágios de satisfação. Muitas vezes, um espelho daquilo que cada um projecta para si próprio. Embora as pessoas não queiram ou não seja “conveniente” dizer explicitamente o que sentem, lá bem no fundo elas sabem instintivamente se a relação vai ou não resultar. O conforto ou desconforto parece estar latente e tudo depende da atenção e dedicação que lhe prestamos. Porventura, todo o sistema cisma para que, cada de um nós, possa aprender e retirar ilações dos sinais que nos chegam dos mais diversos lados e das mais diferentes maneiras.

Na Universidade do Estado da Florida, 135 casais heterossexuais disponibilizaram-se para uma experiência de 6 meses, com posterior acompanhamento de resultados por 4 anos. Inicialmente, os cônjuges deveriam avaliar verbal e explicitamente a sua relação com o parceiro/a e a gravidade dos problemas conjugais. A qualificação era feita com base em pares de adjectivos opostos: boa/má, satisfeito/insatisfeito. No entanto e ao mesmo tempo, os investigadores para obterem respostas implícitas mostraram individual e separadamente, a cada participante e por algumas fracções de segundo, uma fotografia do cônjuge acompanhada de uma palavra de cariz positivo ou negativo: fantástico ou sensacional, horrível ou dramático. Nesta sequência, cada pessoa teria de premir o mais depressa possível um botão para indicar a positividade e/ou negatividade da palavra exibida, sendo este o método que permitiu medir a atitude subconsciente e/ou implícita de cada participante.      

As pessoas que têm sentimentos positivos em relação aos outros respondem rapidamente quando há que transmitir esse estado de espírito e muito lentas (hesitantes) a informar o contrário. Já as pessoas com sensações negativas sobre os outros, reagem mais rapidamente às palavras negativas do que às adjectivações positivas. Todos desejamos ter inter-relações salutares e duradouras. No entanto, as conclusões do estudo parecem querer fazer prevalecer que, apesar de, por vezes, nos tentarmos fazer querer o contrário, o subconsciente pretende encaminhar-nos para o que é melhor através das reacções automáticas e instintivas. Sendo que, neste particular, o cérebro não distingue o que é real ou imaginado; esta é uma forma de através da repetição cada pessoa ir construindo a sua aprendizagem. Compete a cada um avaliar uma eventual reformulação dos hábitos utilizando a possibilidade de mudar o que não se coaduna com os seus interesses. 

Prosseguindo um dos intuitos da experiência, os cientistas quiseram saber, de 6 em 6 meses, que tipo de relação os participantes mantinham. Constataram que, passados 4 anos, aqueles que, durante o período inicial haviam experimentado consequências negativas eram os mesmos que agora reportavam maiores níveis de insatisfação. Quando em algumas circunstâncias nos deparamos com “sinais” biológicos e psicológicos desagradáveis, não sendo totalmente confiáveis, não quer dizer que não contenham intrinsecamente uma importância que devemos relevar.


“A autenticidade consiste em seres quem és, mesmo quando todos querem que sejas outra coisa” - Michael Jordan