quinta-feira, janeiro 30, 2014

Confiar? Em quem e em quê?




É um exercício que certamente muitos de nós, em circunstâncias normais fazemos, mas com a rápida alteração de paradigmas dos últimos anos, muito provavelmente, nos deparamos mais frequentemente a reflectir sobre o tema.
Para o efeito irei relatar uma história verídica, à qual tive acesso, e que penso poder contribuir para que possamos retirar algumas ilações.
Paul Feldman era licenciado em engenharia agrícola. Decorria o ano de 1962; este protagonista era bem remunerado e tinha uma vida estável. Durante os 20 anos que se seguiram, destacou-se por desempenhar cargos de alta responsabilidade e de ser reconhecido pela particularidade de presentear os seus colaboradores com bolos, sempre que a sua equipa abraçava o êxito.
Em 1984, ao reflectir sobre a vida que levava, decidiu deixar o trabalho que tinha e dedicar-se a tempo inteiro à venda dos já famosos bolos. Todos acharam que ele tinha perdido o juízo, mas como teve o apoio total da família, avançou. Para o efeito, começou a estabelecer contactos com eventuais clientes e abordou-os com uma proposta simples: de manhã, ia levar os bolos e, a acompanhá-los, uma pequena cesta onde deveria ser colocado o dinheiro referente ao consumo. Antes do almoço regressaria para levantar as sobras e o dinheiro.
Desde o início fez questão de recolher rigorosamente os dados relativos ao negócio. Pagavam? Não pagavam? Dependeria do tipo de empresa? Em que circunstâncias é que as pessoas actuavam de uma ou outra forma? Assumiu o compromisso pessoal de que interviria caso o rácio de pagamento se situasse abaixo dos 80%. Fá-lo-ia através de um bilhete em que chamava a atenção dos utilizadores do serviço,  questionando sobre se achavam bem o que se estava a passar e que tipo de actuação teriam se os seus filhos viessem a ter aquele tipo de comportamento!    

Quase logo no princípio do processo teve de alterar o repositório do dinheiro de uma cesta aberta para uma caixa de madeira com uma ranhura. Na primeira opção o dinheiro desaparecia frequentemente.
Ao longo do tempo e durante um período de quase 20 anos, Paul assistiu a um declínio lento da taxa global de pagamento. Por volta do ano de 2001 esta situava-se nos 87%. Porém, após os ataques do 11 de Setembro nos EUA (2001) a taxa subiu para os 90% e aí se manteve. Notou que aquele triste episódio tinha tido reflexos nos comportamentos.
Particularidades: os escritórios pequenos (mais ou menos 10 pessoas) pagavam melhor do que os escritórios grandes (mais ou menos 100 pessoas); o bom tempo induzia as pessoas a pagar ao contrário do mau tempo; genericamente, nas épocas festivas a taxa de pagamento baixava; o dono do negócio concluiu que os escritórios onde o ambiente profissional era favorável, as pessoas tendiam a ser mais cumpridoras; também acreditava que os empregados com cargos mais elevados enganavam mais do que os de níveis mais baixos depois de analisar a distribuição em andares de escritórios que permitiam este tipo de escrutínio.  

Sendo que esta pequena história nos remete para a possibilidade de a confiança nos outros poder ser mensurável, em função das circunstâncias, lanço-lhe um desafio. Qual será a taxa percentual relativa à sua auto-confiança?