sexta-feira, setembro 30, 2011

Ajuda…


I´lost”. Foi ou é o nome de uma série televisiva que pode, de uma forma menos literal, traduzir uma interpretação do título deste excerto.
A palavra ajuda tem, mais do que menos vezes, uma conotação negativa, por vezes até na fronteira da desconfiança e do descrédito. Outras, parece que custa ser soletrada! Como que, atrás do seu significado, houvesse algo que nos impele à retracção.
A interpretação pessoal é diferente da que habitualmente é transmitida.
Se, por um lado, nos encontramos em situações de dificuldade de sobrevivência física em que poderá estar em causa a manutenção enquanto terrenos, é vulgar que solicitemos, com relativa facilidade, auxílio. Uma qualquer lesão, um incómodo mais ou menos permanente.
No entanto, as coisas mudam totalmente de figura quando estamos perante circunstâncias em que, no âmbito mental, somos “interceptados” por emoções e, subsequentemente, por sentimentos menos positivos. Aí, sim, a tal abertura para denunciar a dor invisível como que se desvanece. A disponibilidade que existe em certas e determinadas alturas, como que por magia, se transforma em comportamentos de nenhuma ou muito pouca necessidade. Quando questionadas sobre os motivos, as pessoas são rápidas: porque não! (como se fosse uma resposta absolutamente conclusiva), porque não me apercebo de que haja algo menos positivo na minha vida (o peso, a focalização nos problemas alheios, a pouca vontade para atingir objectivos, etc.), com o meu status quo o que diriam? (como que essa fórmula crie um qualquer escudo invisível) e por aí adiante.
Podemos ouvir as mais recônditas justificações. Objectivo pretendido: simular. Resultado real: prejudicar.
Desde a mais tenra idade que os petizes são educados para não chorarem. É próprio das meninas e é uma demonstração de fragilidade, fraqueza. Os homens crescem com a convicção de que não se pode ou deve chorar. As raparigas podem, mas às escondidas!
Assim, não é recomendável chorar, contrariando o próprio organismo que está preparado para isso mesmo como forma de auto-gestão. E nós, humanos, duvidando desse benefício, praticamo-lo em últimas circunstâncias, isto quando o fazemos. Na fase adulta, qual o homem que chora descomprometidamente em frente aos filhos? E a mulher que numa fase menos boa da vida (sim porque a felicidade existe, mas não é permanente) evita a todo o transe demonstrar as suas emoções?
E isto acontece quer na vida profissional, quer no percurso familiar. E quanto maior responsabilidade intrínseca é reconhecida pelo própria/o, maior é a resistência.

No entanto, quem estiver atento apercebe-se de que alguém precisa de ajuda, nem que seja na procura de harmonia pessoal ou na tentativa de obter o equilíbrio que lhe permita continuar, de uma forma mais confortável, o seu percurso. Isto passa-se com toda a gente! Mas o evitamento é um tipo de comportamento assaz corrente nas relações humanas. Quantos de vós se lembram de um ou mais exemplos em que colocada uma questão, lançado um desafio, um pedido de esclarecimento os interlocutores exclamam: “agora não!”, “fica para uma próxima vez!” ou, mais eloquentemente, “não quero falar mais!”. Isto é com os outros. E connosco? Aceitamos os nossos sentimentos, temos cuidado com os sinais que o corpo nos dá, diligenciamos na real procura do nosso bem-estar?
Não nos podemos esquecer que somos organicamente interactivos e sociais.
O pedir ajuda é uma forma de inteligência, compreendendo que não se é totalmente auto-suficiente e que é um acto de honestidade e integridade pessoais.
Ao solicitar ajuda, terapia, reorientação estou a anunciar que sou corajosa/o e que me quero comprometer a melhorar os meus actuais níveis de auto-estima, pois se tal acontecer serei eu a/o 1º a beneficiar com este acontecimento e, como que por contágio, os que me rodeiam terão muito maior prazer em estar comigo e tentarão que este facto aconteça mais vezes.  
Mas atenção! Há casos em que o mal-estar nos empurra para os entes/amigos mais próximos com pedidos pouco conscientes e de reduzido compromisso. Aqueles que no seu espírito mais altruísta se disponibilizam a dar o seu melhor são, por vezes, surpreendidos com comportamentos em que parece que os papéis se inverteram, ou seja, os interessados numa solução desejam-na, mas sob determinadas condicionantes (que raramente são do seu agrado quando alternativas lhe são avançadas) ou perante especificidades em que o alcançar o objectivo pretendido não depende totalmente de quem pede ajuda, mas principalmente de quem a proporciona.         
Quem se sente plena e conscientemente harmonioso na interacção mente-corpo ou vice-versa? E com os outros?

Até breve.