quinta-feira, março 06, 2014

O bom é inimigo do óptimo





E se, de repente, se apercebesse que a história que lhe contam há 6 anos, sobre a crise, era inventada? Fazia parte de um argumento engendrado por uma série de senhores e senhoras que nos tinham manipulado!

Um filme tem vários intervenientes. Entre outros e sem desprimor dos não mencionados, porque todos têm um papel fundamental, temos notícia do produtor, do realizador, do guionista e…dos actores. Estes, são aqueles que, o público em geral, mais responsabiliza pelo êxito ou inêxito da obra. É-me mais familiar ouvir que alguém vai ao cinema porque “entra” um determinado actor/actriz do que haver referência a certo realizador e menos ainda sobre a categoria do produtor. No entanto, o resultado final, tendo a colaboração de todos os intervenientes na trama, encerra uma significativa quota-parte do trabalho do realizador. É ele que, afinal, dirige!

Utilizando esta metáfora, desafio-vos a reflectir sobre o pensamento de Sócrates e divulgado pelo seu discípulo Platão, já lá vão cerca de 2.500 anos:

"Assim como seria ridículo chamar o filho do nosso alfaiate ou do nosso sapateiro, para que nos fizessem um fato ou umas botas, não tendo eles aprendido o ofício, assim também seria ridículo consentir ou admitir no governo da República os filhos daqueles varões, que governaram com acerto ou prudência, não tendo eles a mesma capacidade dos pais."

Este excerto levou-me sobre o que pode significar a palavra democracia. Sendo que as alterações conceptuais alteram com o tempo, a sua origem etimológica reside nos termos gregos dèmos (povo, população) + kratos (poder), ou seja, demokratía ou “governo do povo”.

Mas, os recentes desenvolvimentos sociais, políticos e económicos nacionais e internacionais logo me transportaram para outra perspectiva. Decidi, então, averiguar uma palavra prima da anterior: demagogia. Desta forma, a primeira componente dèmos, mantém-se, mas adiciona-se a expressão agògos (liderança) que, na Grécia antiga bem como na Roma imperial, se referia ao orador que falava e representava as pessoas desfavorecidas. Já à época as pretensões altruístas rapidamente se esfumavam!

Acabamos por compreender a apreciação de Sócrates quando constatamos que os demagogos gregos defendiam as classes mais pobres fazendo uso de artifícios apelativos, alegando o benefício das suas próprias acções na defesa dos direitos da maioria. Claro que este era, muito normalmente, o papel da oposição face à aristocracia conjuntural.

Quo vadis!

Enquanto sociedade interiorizámos e mantivemos muitos “tiques” dos conceitos tribais. Quase sem pestanejar, aceitamos como bom aquilo que os outros nos concedem e/ou por nós decidem. E muitas vezes sem equacionarmos se os desejos e interesses alheios coincidem com os nossos e têm alguma, mínima que seja, semelhança. É daí que, quando nos perguntam “como estás?”, muito portuguesmente respondemos “vou andando!”.

A aprendizagem de que o bem-estar é algo que valerá somente a pena se se estender ao colectivo para além do individual; a percepção da dificuldade que a generalidade das pessoas têm em aceitar a opinião (não me refiro à acção) dos outros como tão válida quanto a sua; o modo como se evidenciam mais facilmente actos de agressividade e até violência como forma de resolução de conflitos em vez de propagação de comportamentos promotores do respeito e da consideração, podem indiciar alguns desequilíbrios entre o verdadeiro eu e aquele que, cada um de nós, gosta de projectar.
Esta distância pode ser tão mais sentida quanto maior for o distanciamento entre o que somos e o que aparentamos ser.

Afinal de contas estamos ou não a tentar viver numa nova ordem globalizante?

Talvez à laia de presságio foi em 1948 que foi adoptada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Objectivo: tal como o nome prenuncia, salvaguardar os direitos básicos dos seres humanos. Isto aconteceu em 1948. Em 2014, nem um só dos seus maiores princípios é aplicado na sua totalidade!
A quem compete zelar pelos Direitos Humanos? Já Arthur Schopenhauer nos ensinou: “A ousadia é, depois da prudência, uma condição especial da nossa felicidade”.

Fica a sensação de as pessoas se conformarem em vez de se questionarem. 

Tente adoptar o poder do espelho e acolher os seus medos através da sabedoria interior que está disponível em todos nós! A natureza do olhar consiste, somente, em ver o que está no exterior.

Aproveito a oportunidade para dar lugar a um, entre muitos, extraordinário texto de Eça de Queirós em 1845: “Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.” in “Citações e Pensamentos”

O jogo está a ser jogado, quer queiramos, quer não. Sente que a sua dimensão humana, enquanto indivíduo, está em harmonia se só alguns sectores do seu mundo estiverem equilibrados?

Um saudável, até breve J