sexta-feira, março 08, 2013

Dejà vú





 
                                                                                                   


Este desenho, se correctamente dimensionado, pode corresponder a uma ilusão. Ao tentar medir o comprimento da linha recta e se esta tiver equivalência, em ambos os casos, podemos constatar que a sua extensão é equivalente, mas que, ao mesmo tempo, somos assaltados por uma determinada oscilação sobre a veracidade da afirmação. É de fácil dedução que tal facto acontece por simplesmente estarmos perante a adição de extremidades de sentidos opostos. É uma ilusão?

Transposta esta situação para o nosso quotidiano e assumindo que a 1ª linha é uma experiência adquirida e que a 2ª é uma reposição, constatamos que todos os dias nos confrontamos com recordações de acontecimentos. E como acabamos por reagir? Na maioria dos casos, sustentados na informação retida em acontecimentos anteriores e semelhantes às que, por agora, assistimos ou nos envolvemos. Acabamos por comparar sensações de lembranças com ocorrências mais recentes, como se de um rebobinar se tratasse. Uma música romântica que toca num qualquer posto de rádio, a menção ao nome de uma pessoa de quem gostámos, a revisão de um filme que nos marcou à data que vimos a apresentação inicial.

Mas a memória humana tem que se lhe diga, ou seja, a sua organização é interessante e requer atenção. Para começar podemos destacar os 3 principais processos:

- Codificação – registo experimental;
- Armazenamento – onde são guardadas as recordações;
- Reactivação – como recuperamos a informação da memória.

Mas até o próprio armazenamento não é linear. Já está e pronto! Não é bem assim.
Este processo pode realçar 3 tipos:

- Sensorial – os sentidos produzem uma cópia do estímulo;
- Curto prazo – há quem também lhe chame memória de trabalho. Diz respeito à quantidade de informação que o indivíduo consegue armazenar. Tendemos a dar relevo aos itens que estão no início ou no fim de uma lista ou sequência. A título de exemplo podemos referir as matrículas dos automóveis, os nºs de telefone ou telemóveis, os nomes dos filmes que temos interesse em ver;
- Longo prazo – tudo aquilo que nos lembramos por mais de 1 minuto (à semelhança da memória de curta duração também esta tem 3 tipos distintos).

É a memória de longa duração na sua vertente episódica (recordação de experiências) que nos distingue dos outros mamíferos. 

E o extraordinário é que o cérebro está construído de forma em que as situações e as emoções do passado estão impressas em "departamentos" diferentes. Desta forma, os nossos comportamentos podem serem afectados somente por lembranças de cariz emocional, pois foi essa a marca que decidimos dar mais atenção em detrimento dos outros pormenores da ocorrência.

Todos nos confrontamos diariamente com a transposição de dados informativos para as situações que estamos a experimentar no momento. No entanto, na maioria dos casos reagimos e, para além de reagirmos, assumimos a dor ou o prazer passados como realidades presentes e como base das expectativas futuras que nos irão afectar negativa ou positivamente. Será que vivemos quase em permanente ilusão? Não podemos confiar nas nossas recordações!