sábado, janeiro 14, 2012

A força da cultura ou comportamento inconsciente?


Malcolm Gladwell é um dos nomes de referência no estudo e na divulgação da área comportamental. Ao ler uma das suas obras, eis que me vejo confrontado com a referência ao país Portugal, como fazendo parte de uma lista de países em que é mencionada a “rejeição da incerteza”. Esta designação foi avançada pelo psicólogo Geert Hofstede. Quando nos idos anos 60/70 do século passado este holandês trabalhava para a IBM, uma das suas funções era viajar pelo mundo a entrevistar empregados, saber como resolviam problemas, como trabalhavam em grupo e quais as suas atitudes perante a autoridade. Para o efeito elaborou várias escalas em função dos resultados pretendidos, mas a menção a este país surge relacionada com a tolerância à ambiguidade: 1. Grécia; 2. Portugal; 3. Guatemala; 4. Uruguai… por oposição no fim da tabela: 50. Suécia; 51. Dinamarca; 52. Jamaica e 53. Singapura.
Básica e simplisticamente, podemos depreender que os gregos e os portugueses são, num ranking de pouco mais de 50 países, os menos “tolerantes à ambiguidade” e, segundo a própria explicação e designação do autor do estudo, os mais dependentes de regras e planos e os mais propensos a obedecer aos procedimentos quaisquer que sejam as circunstâncias.

Aproveito o embalo para referir que, recuando ainda um pouco mais, já nos relatos de Eça de Queirós, também estes dados se projectam e, porventura, no dealbar da monarquia o Rei D. Carlos continuava as suas faustosas caçadas, enquanto o país se via a braços com significativas dificuldades. À data, não existiam as hoje conhecidas instâncias internacionais de ajuda financeira externa. Como se terão safado?

Recuperando agora os dados revelados pela estatística do 1º parágrafo, o que se pode inferir de, genericamente, “rejeitarmos a incerteza”, sermos “menos tolerantes à ambiguidade”, lidarmos bem com a “dependência de regras e planos” e, por último, sermos “propensos a obedecer aos procedimentos quaisquer que sejam as circunstâncias”?
Passaram cerca de 50 anos que este estudo foi realizado, mas podiam ser muitos mais (conforme nos confirmam textos de época com referência aos nomes mencionados no 2º parágrafo). Há uma importância muito relevante de tradições e costumes que vão para além dos hábitos educacionais. Enquanto estes nos são transmitidos pelos nossos pais e/ou pelos que, de uma ou outra forma, nos acompanham na nossa meninice, aqueles estão mais fortemente enraizados na cultura nacional. E estamos, neste particular, a falar de gerações seguidas que, de uma maneira mais ou menos prosaica, afastam o que é desconhecido, o que implica risco, o que determina impermanência (rejeitar a incerteza), apesar de não adivinharmos o futuro (é impossível, não é?);
que aceitem a dúvida como benéfica, que viabilizem a troca de opiniões, que considerem os motivos e interesses alheios (menos tolerantes à ambiguidade);
que melhor executem se dirigidos, que se comportem se procedimentos houver, que aguardem expectantes os resultados definidos por terceiros (dependência de regras e planos) e, finalmente,
que acedem a participar independentemente dos critérios, que se dispõem a submeter aos eventos apesar dos requisitos, que se disponibilizem sem reflectir nas causas e sem ponderar as consequências (propensos a obedecer aos procedimentos quaisquer que sejam as circunstâncias).

Não pretendendo invocar juízos de valor sobre a correcção ou incorrecção da informação, preferi, noutros termos, interpretar as denominações do já referenciado psicólogo. Obviamente outras poderiam surgir, quer a nível individual, quer por parte dos leitores. No entanto e considerando como consistentes e transversais estas características, o que ressaltaria é o impacto que as mesmas podem provocar nas atitudes de transformação pessoal e na dinamização comportamental da sociedade. Por muito que queiramos, não é possível separar as actividades mentais e somáticas. Umas têm repercussão nas outras. Tal como aqui, as decisões individuais têm implicações sociais e vice-versa. Quando nos decidimos por certos e determinados comportamentos, é aconselhável ter a consciência que renunciamos a outros e que, estas opções, têm consequências.
Quem não ouve nas mais variadas circunstâncias: “a culpa é tua!”, “foste a principal responsável pelo que aconteceu!”?

Nesta fase do campeonato, permita-me esta sugestão:

- prefira o intrínseco ao extrínseco;
- privilegie a autonomia à dependência;
- valorize-se antes de ser valorizado.

Obrigado a todos!!  Excelente fim de semana!