terça-feira, janeiro 29, 2013

O erro





Foi num recente e interessante artigo de jornal que retirei os seguintes argumentos:

“Na aeronáutica, usa-se o erro sem culpa, reporta-se o erro no sentido de o evitar. Na medicina, esconde-se o erro e tenta-se arranjar desculpas para não o relatar” e

“É preciso promover a comunicação entre todos num bloco operatório, dando uma uniformidade de linguagem aos elementos da equipa, à semelhança do que também acontece na aviação”.

Vêem estas declarações no âmbito de uma parceria estabelecida entre comandantes de uma companhia aérea e profissionais de saúde ligados às especialidades cirúrgicas. O objectivo era que médicos, enfermeiros e restante pessoal ligado à área da saúde fomentassem e compreendessem procedimentos e comportamentos dos pilotos de aviões no desempenho da sua actividade profissional e tentassem transferi-los para os blocos operatórios. Obviamente tendo em conta as devidas e necessárias adaptações.
Resta acrescentar que a probabilidade de morte decorrente de uma ocorrência num acto cirúrgico é de 1 para 100 e a morte num acidente de aviação é de 1 para 10 milhões.
Porque é que a vida, em diferentes circunstâncias e contextos, tem mais ou menos importância? Até pela própria comparação de preços entre uma operação e uma qualquer viagem de avião!

Recordo-me, quando criança, que na escola primária havia uma tarefa semanal que pura e simplesmente me tirava do sério. Todos os sábados (dia que frequentávamos só de manhã as instalações) os alunos teriam de recitar uma pequena poesia que, em termos médios, seria mais ou menos composta por 12/16 versos. A memorização total implicava passar incólume a uma penalização de uma reguada por cada verso não decorado. Havia quem, semana após semana, não decorasse nada! Errar, em qualquer cenário, contexto ou circunstância não era tolerado. Mas ninguém se questionava sobre se o método utilizado alcançava os objectivos ou se os resultados eram contrários à compreensão do objecto de estudo, fosse ele qual se pretendesse que fosse!
Será que, hoje em dia, se passou de um extremo para o outro sem que houvesse preocupação de experimentar o meio-termo? Segundo a sabedoria popular é aí que reside a virtude!

Partamos do pressuposto que ninguém, na posse de todas as normais faculdades mentais e físicas, actuará de uma forma auto-punitiva. Faz sentido? Alguém pode ter atitudes menos aconselháveis para com terceiros, mas como reflexo de estados emocionais mais ou menos ponderados. A perspectiva consciente e inconsciente também influencia, e de que maneira, essas mesmas repercussões.

Quando um erro acontece, na maioria das vezes, decorre de um risco que alguém, numa tomada de decisão, entendeu assumir. No fim de contas, a assumpção de um risco espelha a confiança que o individuo deposita em si mesmo ou noutra pessoa.
Como quase em todas as situações de vida, há 2 faces para uma mesma moeda, ou seja, uma versão positiva e outra menos boa. Depende da perspectiva com que cada um de nós quer encarar a situação. No 1º caso, o mais provável é que, numa próxima tentativa, os resultados esperados sejam melhores, partindo do princípio que a falha não será repetida e que houve uma análise e avaliação sobre o que correu menos bem.
É na constante focalização nos resultados positivos que as pessoas se motivam e estimulam para o crescimento. Para que isso aconteça, o erro não pode nem deve ser desperdiçado como factor de desenvolvimento e prazer.
Já no 2º caso, a tendência habitual é para desperdiçar energia, criticando e responsabilizando os outros, quer pelo que fizemos ou não fizemos, quer pelo que devíamos ter feito e pelo que não devíamos ter feito.

Que diferença pode fazer “Não percebes que não é assim..!” ou “Certamente que alcançaste um resultado satisfatório, mas já pensaste em fazer desta maneira?”