quinta-feira, dezembro 01, 2011

O “Não” positivo!


Estava sentado junto a uma mesa com diversos parceiros de convívio. Uns familiares, outros conhecidos e algumas presenças de primeiro contacto. O motivo do prazenteiro evento tinha tido origem numa já algo longínqua marcação de almoço. A conversa desenrolava-se normalmente, quando alguém entendeu pronunciar-se sobre o que pensava sobre outra pessoa que não estava presente. Dirigindo-se especificamente a uma outra participante, aquele alguém fez a sua “avaliação” comportamental, tecendo alguns comentários menos abonatórios e fazendo, inclusive, certas ameaças, caso os desenvolvimentos futuros não se coadunassem com as expectativas de quem proferia o discurso. Na base do diálogo estava a relação de duas pessoas, não familiares, mas que derivado às vicissitudes da vida e que, em alguns momentos, tinham de cruzar os seus destinos. Havia terceiros com quem mantinham, uma delas, laços familiares e, a outra, contactos de maior intimidade.  
Sendo óbvio que a personificação não acrescenta valor ao texto, importa referir que, para o caso, se nos relembrarmos do nosso dia a dia este tipo de acontecimentos é relativamente frequente nos relacionamentos familiares, profissionais e na roda de amigos. Neste contexto e mais vezes do que certamente se desejaria, a conflitualidade surge.Com os outros e menos connosco próprios, talvez por estarmos menos atentos e porque é sempre mais fácil responsabilizar outrém.
Mas ao escutar a palavra conflito, a maioria das pessoas tem uma imediata tendência a afastar-se daquilo que com ele esteja interligado. Um pouco à semelhança do que se passa com o erro! O simples soletrar a palavra causa sensações desagradáveis a nível orgânico. Experimente qualificar a representação mental de um qualquer conflito que, numa primeira instância lhe ocorra? Que dimensão lhe associa, que cor tem, com que intensidade zurze, em que zona somática reage, que sonoridade alberga? Concluída a experiência, há ou não uma sensação incómoda só de relembrar o facto?
Mas as coisas não têm de se passar necessariamente desta forma. A conotação negativa que se dá ao conflito tem origem no facto de se considerar que, intrínseca e necessariamente, a envolvente tem de ser considerada como um duelo de ideias, convicções ou decisões. Na realidade, este pressuposto é uma falácia. O ser humano tem, entre outros, dois hábitos inconscientemente enraizados: fazer juízos de valor e assumir que o mapa é o território. Estas condicionantes conduzem-nos a uma indisponibilidade individual para aceitarmos as perspectivas alheias. Consequentemente, o outro lado da moeda não é equacionado, perdendo-se assim, a vertente positiva que qualquer conflito insere. Decorre simplesmente das noções de que quanto mais informação for considerada e que a opinião e/ou a convicção dos outros é tão válida quanto a nossa, estas poderão contribuir decisivamente para que a harmonia seja mantida e que melhores decisões sejam tomadas.   
Há que saber gerir, por isso, a tendência habitual de afirmação pessoal em detrimento de uma pesquisa activa dos pareceres e de uma audição atenta dos outros. Este comportamento contribuirá certamente para, tal como conhecemos a noite e o dia, tal como há maré baixa e alta, também todos nós temos virtudes que nem sempre se proporcionou serem reveladas. Talvez por isso, algumas vezes, tenhamos a ousadia de afirmar: “não estava nada à espera dessa atitude da tua parte!”. Para o bem e para o mal. Na realidade, é revelador da forma como tentamos condicionar o que nos rodeia. Apesar das estatísticas demonstrarem que o ser humano formula uma imagem mental de todos com quem se relaciona num espaço temporal de apenas 4 minutos. Se, por natureza, somos complexos é plausível aceitarmos como boa informação a processada em tão pouco tempo? 

Boa semana e, parafraseando o Sr. Raul Solnado, façam o favor de ser felizes!