quarta-feira, dezembro 31, 2014

Ser ou não Ser, eis a questão!











Quem, em diversas e determinadas situações, já não foi tomado pela necessidade de ser perfeccionista? Pois eu já! Talvez até, sejam raras as situações em que durante o dia, por um ou outro motivo, não “colidamos” com o querer ser perfeccionista! Aliás, se bem aprendi com alguns contratempos, pude compreender que, para meu gáudio ou para minha tristeza, a perfeição não existe. Passo a explicar. Não que não tenham a capacidade de perceber, mas antes porque poderei não ter sido suficientemente esclarecedor. Ora aqui está um exemplo de uma atitude, porventura, perfeccionista? Ou não? É tudo uma questão de perspectiva. São raras as vezes em que não há mais do que 2 probabilidades de interpretação e percepção dos acontecimentos. No entanto, não raras vezes, temos tendência, perante as outras pessoas, a revelar e a enfatizar um protagonismo por aquilo que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos. Em alguns casos até pode roçar o fanatismo! Depende daquilo que se trata. Se acontece consigo, por que será?   

Muitas vezes, os filhos mais velhos são alvo deste “desejo”. Começam por ser uma ou um menino cheia de graça; depois os níveis de perfeccionismo dos pais são transmitidos à filha/o em diversos parâmetros: independentemente de serem correspondidos os intuitos, a intenção é expressa nas habituais exigências dos deveres académicos reflectidas em notas exemplares, na compostura perante os outros e mais numas determinadas situações do que noutras, na higiene e por aí adiante. Na maior parte das circunstâncias, há que ser um espelho daquilo que é correcto, como se não houvesse uma 2ª via, quanto mais uma 3ª! E estes paradigmas continuam pela vida adulta e serão aplicados como que por contágio.

Ainda recentemente ouvi um testemunho de alguém que, após um workshop de Coaching, anunciava, algo incomodada, que, somente depois de uma chamada de atenção alheia, se tinha apercebido que automática e diariamente telefonava a uma familiar próxima. Segundo a própria, uma significativa quantidade das conversas tinha pouca substância, mas sobrepunha-se a “obrigação” ao genuíno interesse de quem tinha o dever de corresponder. Isto já durava há 5 anos! Este exemplo para relatar que, nem sempre, o perfeccionismo é auto-imposto. Não é em todas as circunstâncias que intentamos redigir o melhor texto como se fosse viável ter acesso, numa específica e determinada altura, a todas as palavras que naquele momento podem ser as mais impactantes; elaborar um plano de trabalho que, desde a primeira hora até à derradeira, não careça de ser modificado; ter a preocupação de limpar o pó a toda a hora e a todo o instante. 

É possível alcançar a perfeição, quando o nosso próprio estado de espírito não se repete, já para não falar no que nos rodeia? A mudança, quer queiramos quer não, é um dado adquirido. Se não a aceitamos de bom grado, ela vem ter connosco como que por ricochete. Como não é aconselhável vivermos isolados, não há como escapar ao efeito borboleta, analisado por Edward Lorenz em 1963. Se não somos nós, alguém o fará por nós! E a nossa satisfação está intrinsecamente interligada com a possibilidade e/ou o privilégio que temos de controlar seja o que for.  
Em muitos casos, o perfeccionismo afecta a forma como comunicamos; por sua vez, cada um de nós comunica aquilo que, na maior parte das vezes, pensa e, consequentemente, age em conformidade. Neste sentido e para que conscientemente possamos retirar algum entulho da mochila que carregamos diariamente às costas, convidava-os a confirmarem se algumas das hipóteses que se seguem acontece:       
   
Ø  Reagir de uma forma decepcionante, subjectiva e crítica quando os outros não se regem exactamente pelos nossos padrões;
Ø  Para conseguir ganhar a aprovação alheia ou no medo que temos de que as pessoas nos achem desinteressantes ou pouco importantes, podemos comunicar de uma forma pouco assertiva e passiva;
Ø  Concordar com os outros quando, na realidade, não queremos;
Ø  Assumir tarefas quando preferíamos não as aceitar. A dificuldade clássica em não saber ou conseguir dizer “não”;
Ø  Reagir defensivamente quando nos sentimos criticados e tal se pode confundir com agressividade.

Porventura, algo carece de revisão. Preste atenção à sua conversa interior e focalize-se no que pode fazer para modificar alguma sensação menos positiva. A auto-estima e a auto-confiança são fundamentais neste processo de harmonia.

domingo, novembro 23, 2014

O Princípio de Pareto









Por vezes, parece haver circunstâncias que vão e regressam como o vaivém das ondas do mar. Ele há os ditames da moda que, de quando em vez, fazem um regresso ao passado, ele há a utilização de palavras que ciclicamente têm maior tendência a ser proferidas, ele há “novas” atitudes que são resgatadas algures no tempo, ele há estados de espírito que parecem revisitar-nos. Ou seja, a história parece querer repetir-se! Talvez por mera coincidência, talvez fruto do clima que se vive, talvez decorrente do contexto social, ouço cada vez mais ou estou mais atento à escassez que as pessoas invocam. Foi recentemente que alguém me dizia, quando nos cruzámos: “ainda não respondi ao que escreveste porque não tive tempo”; de uma outra vez: “não vou ter tempo para ir ter contigo”; ou talvez uma mais comum: “desculpa ter chegado atrasada/o, porque a minha vida é uma correria”. Sinceramente, aprendi a dar uma relativa importância a estas situações, apesar de, na maior parte das vezes, terem impacto na vida dos outros. Não quando estamos a falar de uma atitude sem consequências ou cujo resultado é muito semelhante, mas mesmo naquelas situações em que há impactos menos positivos para os intervenientes, inclusive para aqueles que invocam “falta de tempo”. Por vezes, questiono-me: “será que esta postura não incomoda quem a pratica?”. Penso que na maioria dos casos, também não haverá tempo para parar e ponderar resultados. No fim de contas, são eles que nos permitem avaliar o bem-estar de cada um de nós. Mesmo naquelas circunstâncias em que somos atraídos para despejar os nossos momentos menos positivos como responsabilidade dos outros. Por favor, tirem o cavalinho da chuva. Olhem-se ao espelho, que é um excelente conselheiro!  
A medição do tempo é uma invenção do homem. Talvez por isso já terão reparado que os relógios e as ampulhetas só existem para orientação do ser humano. Qual a razão de termos a necessidade de nos segmentar em períodos da manhã, tarde ou noite? No entanto, seja ele qual for, temos preferência por um deles. Para trabalhar, para tomar um copo, para ver cinema, para ler. Mas depois, como todos estes períodos, adicionados, têm uma extensão de somente 24 horas, não temos tempo para ir ao ginásio durante 90 minutos dia sim, dia não; fica uma ida ao supermercado para mais tarde porque surgiu um telefonema a requerer uma presença nossa; esquecemo-nos de ligar à amiga ou ao amigo porque fomos convocadas/os para uma reunião de última hora e tudo, mas mesmo tudo, é um corre-corre. Não falando nos filhos, não falando nos amigos, não falando nos familiares, há pouco tempo para dar um generoso e sentido abraço cujo tempo pode durar 30 segundos. Mesmo quando damos um abraço, se tomarmos atenção, parece estarmos com pressa de desentrelaçar os braços……
Tendo o recurso tempo a mesma dimensão para todos nós; sendo, muito provavelmente, o mais democrático activo que temos ao nosso dispor; não me recordando de haver alguém que o possa dispensar a outra pessoa, é só nosso; quando se escoa, não há volta a dar, está perdido, não há outra oportunidade; tendo o privilégio, como em poucas coisas, de o utilizar subjectivamente e da forma que quisermos, sem que ele reclame ou conteste; por enquanto ainda não paga imposto, a não ser as consequências daquilo que semeamos; mas também remetendo-nos para uma responsabilidade de o sabermos utilizar eficientemente, como há pessoas para quem o tempo nunca chega e outras que têm sempre disponibilidade? Mas quando menciono disponibilidade não me refiro àquelas pessoas que estão sempre dispostas e prontas mas que, por vezes e chegado o momento, há algo que não permite assumir o compromisso.
Se aplicarmos o princípio de Pareto ou a também chamada regra 80/20 podemos empiricamente atestar que utilizamos somente 20% dos nossos recursos para obter 80% dos nossos resultados. E que significado podem ter os restantes 80% de recursos não utilizados?  

PEQUENO EXERCÍCIO

Utilizando um lápis, divida uma folha de papel com uma linha vertical. 

Do lado esquerdo, enuncie, pelo menos, 5 coisas que são as mais importantes para si. Importantes, não urgentes!Comece na mais importante e continue! Pessoas, coisas, ideias, actividades – seja o que for que é muito importante para si e para o seu bem-estar. Por exemplo, família, saúde, integridade, amigos, trabalho, igreja, animais de estimação, ler.

Agora, do lado direito, liste todas as coisas em que, diariamente, despende o seu tempo, começando por aquilo em que gasta mais tempo e continuando por aí abaixo. Por exemplo: trabalho, família, dormir, missões, trabalho doméstico, ajudar os filhos, amigos, reuniões.
Está feito? Agora, serenamente, confronte as respostas. Há coincidências? Se não, há algo a rever, não lhe parece?

quinta-feira, novembro 06, 2014

Segurança?




















  


De uma forma mais ou menos acentuada todos nós, em vários momentos, sentimos a necessidade de ter segurança. Não só ser seguros, mas também estar seguros! Aliás foi este desígnio que fez com que Abraham Maslow nos desse a conhecer, no início do século passado, a sua “Hierarquia das Necessidades” em que este valor aparece imediatamente a seguir às necessidades fisiológicas básicas. Segurança de emprego, da família, da propriedade, da saúde…
Isto leva-nos para as preocupações sobre o que pensam de nós? De questionarmos o sentido do modo como nos tratam? Da maneira como nos consideram? Dos papéis que nos atribuem? Do nosso estatuto? Enfim, um rol de temas cujo impacto advém do espelho social que cada um de nós é, da influência de paradigmas, ideias, opiniões de quem está à nossa volta, sem que atentemos a dedicar-nos a aprofundar a razão de ser das questões. Por vezes, alegamos até falta de tempo como se fosse possível alguém nos ofertar aquilo que não sabemos estimar, mas que a maior parte das vezes tem custos de oportunidade, apesar de distraidamente pensarmos que, mais tarde ou mais cedo se realizará! 

Já alguma vez encontrou alguém que acreditou  nas suas capacidades quando nem você mesma/o acreditava ser capaz? O que sentiu? Que diferença passou a representar essa pessoa na forma de “ver” o mundo? É esta motivação um factor meramente exógeno?  

À semelhança de um equilibrista radical que se arrisca a percorrer um arame metálico que une dois pontos muitos metros acima do solo, também nós nos podemos atrever a sair da nossa zona de conforto ou, antes pelo contrário, mantermo-nos numa zona de segurança que nada de novo nos traz. Aquilo, que por vezes acontece, é que essa sensação é uma mera ilusão, pois quem nos rodeia pode interferir nesse mesmo estado de espírito e, aquilo que aparentava ser segurança leva-nos a questionar se não se tratará do seu oposto! Afinal, o que é a “segurança”? O que representa?   

Tal como ouvimos ou lemos relacionado com um país, há trâmites e preceitos relativos à segurança interna e externa. Sobre esta, a intervenção e atitude acaba, em muitos momentos, por ser de dependência, pois o controlo sobre o que os outros fazem ou deixam de fazer, não depende de nós e, para além disso, estamos “reféns” de uma boa e verossímil informação. Entre nós e a interacção societária, as coisas não serão, provavelmente, muito diferentes. Embora as descobertas científicas permitam, cada vez mais e com maior frequência, sustentar a alteração de paradigmas, há a ideia generalizada que há uma herança genética vinda dos nossos avós, uma influência psicológica dos nossos pais e uma matriz emocional adquirida das nossas interacções sociais com professores e amigos. Mas esta perspectiva pode mudar!

Nesta senda, ligamos pouco à aquisição de competências para definirmos o que pode contribuir para a nossa segurança interior. Em detrimento destas, “distraímo-nos” com os hábitos e crenças herdadas. Os princípios naturais, tal como a própria denominação demonstra, revelam-nos, caso estejamos atentos, uma série de regras que nos orientam e nos remetem para a sabedoria. Os valores individuais são os ponteiros da bússola do nosso bem-estar. Mas, para isso acontecer, temos de saber o que desejamos e o que nos satisfaz! Sabe o que quer ou…. tem de (pode preencher com um qualquer estímulo) ser mais pontual, elaborar uma agenda de compromissos, ter tempo para ir ao médico?                                                                                                                                                                                                         

quinta-feira, outubro 16, 2014

Emoções associadas



  




Certo dia, um aguerrido samurai procurou um mestre zen para lhe explicar os conceitos de Céu e Inferno.

Ao pedido o monge respondeu-lhe: “Não passas de um estúpido e eu não posso perder tempo com gente como tu!”.

Ofendido, o samurai encheu-se de raiva e, puxando da espada, gritou avançando para o mestre: “Podia matar-te pela tua impertinência!”.

“Isto”, replicou calmamente o monge, “é o Inferno”. 

Sobressaltado ao ver a verdade que acabava de ouvir a respeito da fúria que o dominava, o samurai acalmou-se, devolveu a espada à bainha e fez uma vénia, agradecendo ao monge aquela lição.

“E isso”, disse o monge, “é o Céu”.


 
Apercebermo-nos da frequência com que as emoções nos presenteiam diariamente? Basta que, para o efeito, consigamos assumir que as palavras que proferimos, para além do seu significado, têm também um propósito emocional correlacionado com o sentir pessoal.
A utilização da inteligência emocional é fundamental para a nossa qualidade de vida. Dados científicos recentes confirmam aquilo que há várias décadas é ensinado nos cursos de PNL. É possível modificar as emoções associadas a memórias de forma a suavizar acontecimentos dolorosos do passado. Por exemplo, os casos de depressão e de stress pós traumático que atingem os veteranos de guerra. Os investigadores concluíram que a interacção entre o hipocampo (parte do cérebro que concentra as recordações) e a amígdala (depósito de lembranças sensoriais) é mais flexível do que se pensava. 

Uma nova experiência pode dar origem a novas emoções e dominar a que está “impressa”. A crença original pode desaparecer? Não pode ser apagada, mas pode ser substituída, caso seja a intenção; os hábitos "adquiridos" alterados, bastando querer modificar os circuitos neurais.
De realçar que, até agora, os cientistas só observaram este fenómeno quando se tratava do hipocampo, sensível ao meio ambiente, e não foi possível condicionar a amígdala. Uma curiosidade: já reparou que, quando pensa numa qualquer situação menos positiva, tem a possibilidade de modificar esse caminho e recordar-se de algo de verdadeiramente agradável? Os pensamentos não se sobrepõem, como os tijolos de uma edificação. Já as emoções, sim.
Mude a sua vida modificando a forma como se sente! Experimente, quando por qualquer motivo, for "invadida/o por uma pensamento tóxico, pensar no seu oposto, procurando a percepção benéfica e agradável. Depois, diga como se sente!  

Todos temos um espaço de tempo para optar entre a identificação e caracterização de um estímulo externo e a resposta ao mesmo. É daqui que pode surgir a nossa felicidade! 

terça-feira, setembro 23, 2014

Paradoxos







São muitos e variados. Então o que pode ser entendido por paradoxo. Numa abordagem simplista diria que se trata de uma contradição lógica. Já aqui há algo que nos permitirá reflectir. Contradição lógica? Será esta terminologia um sinal de que devemos estar alerta!?

No entanto, concentrar-me-ei sobre o que entendo ser um mito, para além de um paradoxo. O do pretenso conceito de igualdade. É intenção da própria Constituição Portuguesa manifestar “igualdade real entre os portugueses“ no seu art.º 9, alínea d); um dia destes estava a ler um artigo em que o autor mencionava a pretenda “igualdade perante a lei”; por vezes ouvimos a pretensão de haver “igualdade de oportunidades”; em alguns casos, os casais, os filhos abordam esta mesma questão, da igualdade, nos seus direitos. E por aí adiante. Como outorgar tal essência se nos mais corriqueiros acontecimentos diários nos defrontamos com significativas diferenças, por vezes, abismais no âmbito social, económico, jurídico, desportivo, individual, comportamental?  

Para os devidos efeitos e numa perspectiva meramente pessoal, algo que nos poderá permitir fundamentar ou não esta questão é, em primeira instância, uma apreciação do género e, num segundo patamar algo que nos diferencia do mundo animal, a possibilidade de utilizar o cérebro. Neste particular, compreender as emoções como resposta aos estímulos.

É hoje sabido que, numa perspectiva superficial, tal facto (igualdade), tratado como generalidade, fere as mais básicas percepções do que é o Ser Humano. Mais ainda se nos debruçarmos sobre a diferença de géneros. Homem e Mulher são diferentes ou iguais? Como se pretende que haja igualdade, por exemplo, a nível profissional se o cérebro, na sua estrutura é diferente? Como se pretende que os géneros sejam compatíveis se, na essência, os métodos de comunicação, a cultura masculina e feminina subjacente, a educação são bem diversas? Há que parar com esta ilusão pois as pessoas fundamentam expectativas que não têm qualquer possibilidade de se concretizar.

As mulheres têm tipicamente mais memória verbal e cognição social; os homens mostram uma maior capacidade motora, habilidades em actividades que requerem visualização tridimensional e uma maior propensão para a agressividade física. Se nos recordarmos como os professores na escola primária nos relatavam (será que ainda falam disto?) dos tempos da “Idade da Pedra” a mulher era, já nessa época, protectora e o porto seguro do clã; o homem integrava todos os requisitos antes mencionados como um ser essencialmente caçador, responsável pela sobrevivência da comunidade.

As experiências mostram que as mulheres têm mais ligações entre os 2 hemisférios do cérebro; os homens têm mais ligações dentro de cada um dos hemisférios. Já na região que está associada ao pensamento motor (cerebelo), os homens apresentam mais ligações entre os dois hemisférios. Como a parte esquerda do cérebro está mais “apta” para lidar com o pensamento lógico e a parte direita está mais associada ao pensamento intuitivo, são as mulheres que melhor sintonizadas estão para esta comunhão. Têm melhor memória e são mais emocionalmente envolvidas e, quiçá desenvolvidas. Por outro lado será a desenvoltura motora que justifica que a maioria dos chefes de cozinha sejam homens?

Quanto mais tenras forem as idades menores as diferenças de géneros. Após os 13 anos, vão aumentando gradual e mais substancialmente. Será, por tudo isto, mais salutar aceitarmos a diversidade em vez da igualdade. Caso contrário, ao interiorizarmos e partilharmos este tipo de conceitos com aqueles que connosco privam, podemos estar a contribuir para uma inusitada geração de conflitos e queixas sobre algo que, muito provavelmente em poucos pormenores e especificidades, nada tem de congruente. A procura individual do bem-estar deve observar, entre outros recursos, a utilização da consciência e, é ela que, na sua plenitude, nos permitirá alcançar os objectivos pessoais. Se a diversidade for elevada, melhor! Conjugaremos e consolidaremos o que de melhor há em cada um para que os resultados sejam potenciados, como de uma roda motriz se trate. Para que ela funcione, não são os primeiros embalos que são mais difíceis? Quem pára uma bola de neve em movimento?   
Vamos por isso ser capazes de saber integrar várias perspectivas e enquadrar as diferentes opiniões, de modo a que as interacções sejam vencedoras e com o mínimo deficit possível. A flexibilidade e a aceitação é também uma forma de respeito pelo outro que, desta forma e ao saber que se pode pronunciar, se sente reconhecido e “validado”. Está ou não em causa o bem-estar de afirmar e querer passar a mensagem que somos “iguais”? Em que casos e circunstâncias isto acontece?              

quarta-feira, setembro 10, 2014

Prática física










Todos nos levantamos da cama pelas mais variadas razões e em diferentes circunstâncias. Frequentemente não nos damos conta de que a motivação pessoal é mesmo individual, ou seja, é específica. Por este facto ser constatável, já prestou atenção ao que o seu corpo lhe diz no início de cada dia? Já lhe perguntou como se sente? Já se apercebeu que ele tem a capacidade de lhe transmitir informação que não deve desconsiderar?
Tal como quando nos cruzamos com muitas pessoas conhecidas e rotineiramente lhes perguntamos “como estás?” e a resposta também poucas vezes é pensada e sentida, assim tratamos do nosso corpo. É um conjunto de hábitos adquiridos que acaba por nos dispersar de algo que ninguém a não ser o próprio pode solucionar (caso se revele necessário). Podem até outras pessoas alertar-nos para algo que, na sua perspectiva, não está assim tão bem, mas lá está ela/ele! Mas nem sequer me estou a referir a qualquer tipo de doença. Refiro-me somente à actividade física que é benéfica para todos nós. Que se saiba e nas mais variadas vertentes, não há contratempos e/ou efeitos secundários nefastos desde que observados alguns cuidados e preceitos. Têm obviamente de ser tidos em consideração diversos factores para que as vantagens se façam sentir. Um dos fundamentais será certamente a pessoa conhecer-se a si própria.
Há tanta diversidade de actividades com tanta quantidade de variantes que é muito difícil cada um de nós não gostar de praticar exercício para seu próprio benefício. Sim, é bom para o próprio e para a generalidade daqueles que com ela/ele convivem ou se relacionam. E mais! O impacto não se faz sentir somente a nível físico. Já na antiguidade havia a noção de que mens sana corpore sano, razão pela qual, mesmo que queiramos, não nos é possível segmentar o nosso ser. Só por uma questão de sistematização e racionalização é que há a tendência para subdividir o corpo humano, mas, na realidade, é um todo, um puzzle que, quanto mais equilibrado estiver, melhor.   
Um estudo realizado num período de 3 meses com adultos sedentários revelou significativas melhorias no hipocampo que é o nosso mealheiro das memórias. Os exercícios resumiram-se a fazer actividade física aeróbica durante uma hora, 3 vezes por semana. Os aparelhos utilizados foram uma bicicleta estática e/ou passadeira, havendo um grupo de “atletas” e um outro de controlo. A actividade sanguínea foi controlada antes, durante e depois do treino através de exames de imagiologia. Foi constatado que houve “aumento de fluxo nas regiões chave da cognição” bem como todos os parâmetros cardiovasculares registaram melhorias importantes. E, na maior parte dos participantes os benefícios fizeram sentir-se num muito curto espaço de tempo, 3 semanas, permitindo aos adultos uma motivação extra para manter com mais regularidade a manutenção da actividade. A natureza aeróbica dos exercícios teve impacto nas funções executivas, na capacidade de visualização espacial e na velocidade de processamento de informação.
Como o consumo de medicamentos não tem reduzido, antes pelo contrário, um consórcio de investigação médica realizou um trabalho de análise e avaliação clinica a doentes que se têm socorrido de medicação para doenças cardíacas. A conclusão foi inequívoca. Uma percentagem muito elevada dos doentes tinha uma vida sedentária, sendo que, mesmo aqueles que não cumpriam as horas recomendadas de actividade física, reproduziam melhores resultados que os outros. Neste caso, 45% dos homens eram suficientemente activos e a percentagem de mulheres já só se situava nos 28%.     
Como não há como separar as 4 principais dimensões humanas, admitamos que quanto melhor for a sinergia entre elas mais satisfatório será o nosso bem-estar. Haja a motivação e a determinação para as harmonizar, sendo que o exemplo supra é somente um exemplo da interligação que o físico tem com o mental, mas as vantagens podem ser bem mais alargadas noutras vertentes. Será melhor despender 3 horas semanais a promover a saúde física, mental e emocional e beneficiar com as vantagens que tal decisão pode ter nas interacções diárias e no sentido individual de missão ou optar por se penalizar financeiramente e muito mais quando, por qualquer necessidade, tem de recorrer a medicamentos?   
Já reparou que o que está em causa é equivalente a 1.79% do tempo que corresponde a uma semana? Será que a sua saúde não vale esse compromisso? O ser humano deseja que a recompensa surja o mais rápida possível. A paciência é algo que deve ser treinada e adquirida como uma ferramenta para alcançar objectivos. Sendo que o dispêndio de energia que acontece na actividade física aparenta um só sentido e é imediato, as compensações obtidas são bem mais compensadoras ao nível do descanso, dos relacionamentos pessoais, da destreza diária e do positivo estado de espírito que se começa a instalar.    
Faça por se inundar de endorfinas e revitalizar o seu modo de vida. Todos ganham, a começar por si! Se continuar a fazer o que fez até agora os resultados não se alterarão. É isso que quer?   

domingo, agosto 24, 2014

É verdade? É mentira?





Algures no tempo, perguntei a uma pessoa conhecida se mentia. Assim, de supetão! A resposta também foi instintiva. Não, não minto! Depois de mais uma insistência, repetiu a informação subconsciente que havia proclamado. A pergunta não era específica acerca do modo de mentir. Era até muito vaga. No entanto, a convicção ficou expressa. Quantas vezes por dia nos deparamos com esta possibilidade? De simplesmente transmitir verbalmente uma opinião que não está de acordo com as nossas sensações? Talvez mais vezes do que pensamos e/ou gostaríamos mesmo de admitir.

As inter-relações têm diversas fases e diferentes estágios de satisfação. Muitas vezes, um espelho daquilo que cada um projecta para si próprio. Embora as pessoas não queiram ou não seja “conveniente” dizer explicitamente o que sentem, lá bem no fundo elas sabem instintivamente se a relação vai ou não resultar. O conforto ou desconforto parece estar latente e tudo depende da atenção e dedicação que lhe prestamos. Porventura, todo o sistema cisma para que, cada de um nós, possa aprender e retirar ilações dos sinais que nos chegam dos mais diversos lados e das mais diferentes maneiras.

Na Universidade do Estado da Florida, 135 casais heterossexuais disponibilizaram-se para uma experiência de 6 meses, com posterior acompanhamento de resultados por 4 anos. Inicialmente, os cônjuges deveriam avaliar verbal e explicitamente a sua relação com o parceiro/a e a gravidade dos problemas conjugais. A qualificação era feita com base em pares de adjectivos opostos: boa/má, satisfeito/insatisfeito. No entanto e ao mesmo tempo, os investigadores para obterem respostas implícitas mostraram individual e separadamente, a cada participante e por algumas fracções de segundo, uma fotografia do cônjuge acompanhada de uma palavra de cariz positivo ou negativo: fantástico ou sensacional, horrível ou dramático. Nesta sequência, cada pessoa teria de premir o mais depressa possível um botão para indicar a positividade e/ou negatividade da palavra exibida, sendo este o método que permitiu medir a atitude subconsciente e/ou implícita de cada participante.      

As pessoas que têm sentimentos positivos em relação aos outros respondem rapidamente quando há que transmitir esse estado de espírito e muito lentas (hesitantes) a informar o contrário. Já as pessoas com sensações negativas sobre os outros, reagem mais rapidamente às palavras negativas do que às adjectivações positivas. Todos desejamos ter inter-relações salutares e duradouras. No entanto, as conclusões do estudo parecem querer fazer prevalecer que, apesar de, por vezes, nos tentarmos fazer querer o contrário, o subconsciente pretende encaminhar-nos para o que é melhor através das reacções automáticas e instintivas. Sendo que, neste particular, o cérebro não distingue o que é real ou imaginado; esta é uma forma de através da repetição cada pessoa ir construindo a sua aprendizagem. Compete a cada um avaliar uma eventual reformulação dos hábitos utilizando a possibilidade de mudar o que não se coaduna com os seus interesses. 

Prosseguindo um dos intuitos da experiência, os cientistas quiseram saber, de 6 em 6 meses, que tipo de relação os participantes mantinham. Constataram que, passados 4 anos, aqueles que, durante o período inicial haviam experimentado consequências negativas eram os mesmos que agora reportavam maiores níveis de insatisfação. Quando em algumas circunstâncias nos deparamos com “sinais” biológicos e psicológicos desagradáveis, não sendo totalmente confiáveis, não quer dizer que não contenham intrinsecamente uma importância que devemos relevar.


“A autenticidade consiste em seres quem és, mesmo quando todos querem que sejas outra coisa” - Michael Jordan

terça-feira, julho 29, 2014

Cooperação





Cooperar. Operar conjuntamente. Em comunidade. Alcançar, com base na operacionalidade, objectivos comuns.
Um estudo espanhol, recente, tratou de avaliar as atitudes de cooperação das pessoas em consonância com as diferentes fachas etárias. Quando comparados com outros animais sociais, o ser humano é, genericamente, excepcionalmente cooperante. Deduziu esta amostragem uma particularidade: as pessoas mais idosas são mais cooperantes que os pré-adolescentes e adolescentes. Vejamos!
Todos nós nos relacionamos para daí retirarmos alguma vantagem. A maior parte das vezes, temos até tendência a negá-lo! Há um motivo que nos impele para a expectativa do benefício comum, apesar de em muitos casos estarmos perante pessoas com quem não nos relacionamos habitualmente. Atentemos em 2 experiências diferentes nas suas características.
A 1ª decorreu numa feira de jogos em que pouco mais de centena e meia de voluntários entre os 10 e os 87 anos foram distribuídos em função da idade. Os participantes, em grupos de 2 elementos, teriam, ao longo de 25 etapas de duração do jogo, de decidir se cooperavam ou não em determinada situação. Quando ambos cooperavam, os 2 jogadores recebiam um certo número de pontos; quando só um cooperava e o outro não, o 1º recebia menos que o 2º (é verdade, o cooperante era penalizado!); quando nenhum cooperava não havia pontos para ninguém. No final os pontos eram traduzidos em dinheiro e os voluntários pagos, sendo que eram os pais dos concorrentes menores que recebiam as recompensas. Os investigadores constataram que o comportamento dos mais novos era muito mais imprevisível do que os grupos etários mais idosos e que a sua decisão de cooperar, para além de mais volátil também era pautada por um maior condicionamento, ou seja, reagiam de acordo com as acções alheias, em vez de terem em consideração as próprias acções passadas. Foi também evidenciado o facto de os voluntários com mais de 65 anos serem mais propensos a cooperar. Em função destes dados os cientistas realçaram o facto de poder ser benéfico para a sociedade, para as empresas e, consequentemente, para o país considerar os grupos etários mais altos como exemplo de estratégias alternativas de cooperação e da obtenção de resultados mais satisfatórios.
A 2ª experiência decorreu numa escola com meia centena de crianças com idades compreendidas entre os 12 e 13 anos. Estas foram mais cooperativas do que as anteriores mas a instabilidade comportamental permaneceu.
Parece assim ficar a ideia que há uma componente evolutiva e cultural ao longo do ciclo da vida e que a tendência para colaborar pode ser aprendida e apreendida. Esta mesma propensão é reconhecida como inata em idades mais prematuras bem como fonte de desenvolvimento em idades já para além das fases adolescentes. No entanto, pode ser relevante e até interessante, haver a sensibilidade para despertar nas gerações mais jovens o encanto da empatia, por oposição à antipatia, e do altruísmo como forma de cooperação inter geracional. Parece por isto ser recomendável que, nas diversas estruturas societárias, não haja a tendência e/ou a tentação de discriminar sectores etários como mais ou menos capazes. Todos terão a capacidade de gerar mais-valias em função das suas experiências e competências. Há um desenvolvimento hierárquico que, com base no exemplo, deve ser respeitado e compreendido como fonte catalisadora de bem-estar. 

A cooperação é fundamental no trabalho de equipa, na comunicação, na aprendizagem, na escola, na família, nas inter relações, no ouvir atentamente, na resolução de conflitos...

“Temos de nos emprestar aos outros, mas apenas de nos darmos a nós mesmos" - Michel de Montaigne

terça-feira, julho 15, 2014

Rien de rien



Um estudo norte-americano de psicologia, recentemente divulgado na revista Science, informou que, num universo de 200 pessoas entre os 18 e os 77 anos, a maioria preferiu desenvolver uma actividade qualquer, que até podia ser a auto-aplicação de indolores e ligeiros choques elétricos, a submeter-se a uma experiência de não fazer nada. Esta consistia no pretenso objectivo de os participantes ficarem fechados numa sala ou casa vazia e se dedicassem à arte de pensar. O tempo proposto foi de um período entre 6 e 15 minutos. Um significativo número de voluntários preferiu fazer algo, como ouvir música ou utilizar o smartphone. De realçar que não terá havido diferenciação de resultados entre os habituais utilizadores de aparelhos electrónicos e de redes sociais e os outros participantes. Uma cientista sugeriu até que a “obsessão” com este tipo de experiências são uma consequência e não uma causa. Ou seja, o efeito é a utilização de meios externos para, eventualmente, nos dissociarmos da possibilidade de nos questionarmos da raiz do problema interior. 
A sociedade actual recompensa quem faz várias coisas ao mesmo tempo, razão pela qual o exercício de concentração (introspecção, meditação) nem sempre é visto como algo benéfico. O vazio, o silêncio, a serenidade são, de alguma forma, ameaçadores, tal como tudo o que é desconhecido. Há menor risco em nos envolvermos no e sobre o que já pensamos conhecer. Se me fizer muitas e complicadas perguntas, sei lá eu o que vou encontrar? Paralelamente a paciência não é requisito que, habitualmente, seja considerado. Os resultados a curto prazo são mais facilmente reconhecidos do que os de longo prazo, embora estes sejam, genericamente, bem mais satisfatórios. O que obtemos a longo prazo é consequência de muitas e frequentes acções durante um significativo período de tempo.    

O simples facto de estar atento à forma como habitualmente nos comportamos, permite constatar que a generalidade das pessoas dá prioridade à urgência dos assuntos desvalorizando a importância de outros interesses. Quantas vezes por dia podemos ouvir “não tenho tempo” e alguns até anunciam que “se dão muito bem em situações de stress”. Nenhuma destas perspectivas, bem como outras semelhantes, se anunciam como indicadores salutares. Antes pelo contrário! No entanto, por que razão há tanta gente a insistir no mesmo?
Desde crianças que o apelo à acção é uma realidade. De tal forma que a gestão energética do nosso organismo vai no sentido de o desperdício ser evitado. No entanto, sabe-se hoje que o consumo do recurso energia, tão fundamental para o ser humano, é muito mais significativo quando é utilizada a capacidade cognitiva do que a física. Talvez por isso, culturalmente e durante décadas, o mundo ocidental tenha estado distraído de temas tão relevantes como aquele que nos foram revelados pelos antigos filósofos gregos. Já lá vão 2500 anos! A famosa frase de Sócrates é disso exemplo quando expressa a humildade de não se conhecer a si próprio: “só sei que nada sei!”.
Colocar-nos em causa não é fácil. Há que hierarquizar valores, convicções, compreender estados de espirito, refletir sobre regras comportamentais. Isto tudo a nível individual, de modo a que possamos encarar a nossa identidade. Contudo, é bem diferente o “não fazer nada” da experiência supra mencionada ao que pode resultar do alheamento, acomodamento ou evitamento relacionado com a recomendável tomada de decisão sobre um qualquer assunto que requer solução. Vivemos na ilusão de que resolvemos todos os nossos problemas através das reacções que temos junto de quem ou sobre o que nos rodeia, quando a solução é mesmo apercebermo-nos de que essas mesmas atitudes são reflexo de questões deficientemente equacionadas por nós mesmos. As sensações negativas que possam surgir de determinada ocorrência não são aplicáveis à própria experiência, mas antes à interpretação que, cada um de nós, faz da mesma. Com inusitada frequência nos concentramos no efeito desprezando a causa. O que pode estar na origem da minha irritação, frustração? Bem vistas as coisas, não faz sentido que seja o comportamento da outra pessoa. Mas no imediato, não é bem assim que a maioria interpreta o assunto.    
O que poderá provocar uma inquietude do ser humano durante um período de tempo tão curto como o relatado na experiência supra mencionada e uma passividade generalizada quando dá “de caras” com a necessidade de corresponder aos seus revelados anseios?
Há diferença na interacção que tem com os outros e com a que tem consigo?
 





sexta-feira, junho 27, 2014

A bagagem







Ocorreu-me escrever sobre este tema com base em duas premissas. A 1ª, mais óbvia, por estarmos em tempo de férias; a 2ª, por ter tido acesso a uma notícia cujo título era “Greta viveu 1 ano sem gastar dinheiro”. Curioso, li-a. À notícia claro!
Basicamente descreve que uma jovem alemã decidiu colocar “em causa” o actual sistema financeiro. Este teste surgiu após uma opípara refeição em casa da sua avó. Concluiu que o desperdício era enorme e, logo se decidiu a avançar para a experiência. Para o efeito, a alimentação era conseguida através de produtos hortícolas cultivados pelos próprios utilizadores, bem como outro tipo de bens e víveres necessários para a sua subsistência; a mesma coisa se passava com os produtos de higiene e por outro tipo de estratégias de auto sobrevivência. Como em todas as circunstâncias, no final da aventura deduziu que houve coisas positivas e outras que nem por isso!

Mas isto para testemunhar que há casos em que, quase sem nos apercebermos, há excesso de bagagem; outros, talvez em menor numero, em que a mesma peca por escassez. Quer num caso, quer noutro, não há equilíbrio e, como tal, carregamos peso a mais ou acaba por nos faltar algo que só nos lembramos quando queremos utilizar.
Em muitas ocasiões do nosso quotidiano isto acontece. No entanto, constato que, nos mais variados exemplos que me ocorrem, para além de haver pouca sensibilidade para que haja ponderação sobre a bagagem que se transporta, seja na ausência ou no cúmulo do que é efectivamente necessário, o peso que carregamos é concentrado por artefactos externos ao nosso próprio Ser. E em que circunstâncias damos importância ao excesso de “bagagem emocional”? E quando damos atenção ao nosso deficitário bem-estar? E em que casos escutamos o que o nosso corpo nos transmite? E como reagimos ao que as outras pessoas nos dizem? Ou seja, como avaliamos a nossa bagagem interior?

Tal como a bagagem intelectual individual, que nos permite dar resposta às mais variadas solicitudes do dia a dia, através da utilização dos recursos que nos são disponibilizados e da aprendizagem conseguida, também a focalização na harmonia das dimensões emocional, física, mental e espiritual deve ser tida em conta.
A nossa competência também nos deve ser dirigida, sob pena de que, se nos distrairmos do que, na realidade, nos interessa, é uma questão de tempo esse balanço não nos ser favorável, quer por defeito, quer por excesso.

O modo como pensamos, o modo como sentimos, o modo como agimos tem reflexo na forma como nos expressamos. Se as palavras que utilizamos indiciam uma carga negativa é dessa mesma forma que olhamos o mundo e, então, ele torna-se uma ameaça e acaba por nos causar sofrimento. Mas se a perspectiva pessoal é de cariz confiante e satisfatório, o que transmitimos e comunicamos é, certamente, associado do prazer. Faça um pequeno exercício! Experimente gravar os seus diálogos. Alguns dias mais tarde e de uma forma serena, preste atenção às palavras que utilizou e dedique algum tempo a apreciar que tipo de sentir elas lhe transmitem?

A opção é sua! As percepções pessoais estão interligadas com aquilo a que damos atenção e com o significado que damos às nossas experiências.


"Você não é o que você pensa que é, mas o que você pensa, você é!" – Norman Vincent Peale

quarta-feira, maio 07, 2014

É influenciável?





Li esta pergunta algures. A primeiríssima reacção é responder em surdina mas enfatizadamente que não. Depois, ao fazer aquela escolha mais acertada de parar no tempo e optar por reflectir, lá me decidi que sim, sou influenciável. Para o efeito fiz-me mais algumas perguntas que decidi partilhar.  

Uma significativa percentagem dos nossos comportamentos é automática e, como tal, inconsciente. Já se questionou se pensa o que quer e quando quer? Sente liberdade quanto ao seu pensamento ou, antes pelo contrário, sente-se por vezes como que amordaçada/o? E a opinião dos outros, quando e em que circunstâncias nos afectam?

Um dos mais comuns cenários é quando nos deparamos com o “medo de falhar” e a forma como encaramos os resultados menos positivos. Sobrecarregamos um fardo de pretensa perfeição sem sequer nos apercebermos que ela não existe. Ao aceitarmos uma perspectiva evolutiva e de continuada aprendizagem, as metas tornam-se mais subjectivamente tangíveis e, como consequência, as oportunidades começam a surgir e como que nos empurram para a acção. De repente, parece que fomos bafejados com a “sorte” dos audazes.    
Foi aliás isto que aconteceu a Thomas Edison, um dos mais pródigos inventores do século passado, que dizia: “Eu não falhei. Apenas me deparei com 10 mil formas que não resultaram.”

Outra possibilidade é considerarmos que “não temos valor”. A acrescer a esta crença e inverdade, nem sequer paramos para repararmos que é algo que vem do exterior, como que nos é arremessado a despropósito.
Há que procurar fundo, se necessário, para sentir e vestir aquela pele que nos transporta para um cenário em que, se preciso for, a única recompensa pelo trabalho desenvolvido é a ausência de cansaço e o êxtase de um futuro risonho. O sentimento de culpa e o fazer somente o que esperam de nós dão lugar à visão e à descoberta de um qualquer ou mais talentos únicos. Já reparou que, tal como através das suas impressões digitais lhe asseguram que não há mais ninguém com aquelas mesmas características, também pode assumir que tem um talento exclusivo que lhe permite a diferenciação?

Em alguns casos assumimos que “não somos capazes”. Por vezes sem experienciar seja o que for, esta ideia assusta-nos. Parece até que alguém ordenou que reduzissem a nossa real dimensão.
Com cada vez maior frequência temos tido acesso a exemplos fantásticos de determinação e resiliência. Podemos decidir entregar a confiança a outras pessoas e outorgar que sejam elas a decidir o que devemos fazer ou chamar-lhe auto-estima e assumir o controlo das rédeas como se fossemos um tal McNamara a galgar a nossa onda.

Os noticiários, as imagens, as conversas só revelam constantes e diferentes imagens e fontes de preocupação. Somos responsáveis pelos resultados das nossas experiências! Preocuparmo-nos torna-se um hábito e, quando tal acontece é fruto de uma determinada forma de pensar. Pré ocuparmo-nos com circunstâncias ou situações leva-nos a sofrer por antecipação; a desconsiderar a esperança que o amanhã nos reserva através do que pensamos e agimos hoje; a prever que o caminho será feito de problemas e obstáculos que, em vez de nos propiciarem desenvoltura, se transformarão em paredes imensas que nos barrarão o acesso aos próprios interesses.

“Quem sou eu para mudar seja o que for?!”. Mas a questão, assim colocada, remete-nos para um quadro de intrínseca falsa incapacidade e de involuntária descompensação perante as perspectivas que nos rodeiam.
   
São os factores externos que influenciam os seus comportamentos ou, antes pelo contrário, é o que pensa que condiciona as suas atitudes e decisões? 

Se o bem-estar está a rondar, felicito-a (o), caso contrário abrace a mudança! Limite-se a acompanhar a constante movimentação de energias positivas que estão ao dispor de todos.

terça-feira, abril 08, 2014

No pain, no gain!






Esta é uma frase que ouvi, num determinado dia, quando estava no ginásio. Confesso que há data, não lhe dei muita importância, quero com isto dizer, que não reflecti. Mas há medida que o tempo vai passando, para além de compreender que pode ser adaptada a diversos contextos, tem intrínseco um conceito muito relevante.

Quando ouvimos falar em mudança é algo que, na maioria das pessoas, é absolutamente normal. Ok! Mudar de carro, mudar um móvel de lugar, mudar uma peça de roupa. Tudo coisas do dia a dia, perfeitamente vulgares. No entanto e bem vistas as coisas, a mudança é externa, processa-se com algo que se baseia no TER e não no SER. Por exemplo, podemos mudar de carro porque o novo proporciona mais conforto. Mas será que não me irá causar mais preocupações de compromisso para com o meu orçamento? Será que para obter conforto me sinto confortável?

Foi recentemente que, numa conversa informal, questionei uma pessoa do meu círculo de amizade sobre o que estava a sentir sobre uma questão algo semelhante. Ao incentivo de aprofundar o sentimento subjacente e de eu lhe ter sugerido mudança após a revelação da toxidade do mesmo, obtive a exclamação “mas isso é muito difícil!”. Mas quem é que disse que era fácil?” questionei.    
Aqui chegados, podemos aferir que o grande desafio do bem-estar é SER maior que o sofrimento, o desconforto que a mudança causa e não tanto a pura e simples mudança em si mesma. No entanto, nem tudo o que parece é!

É nos “gânglios basais” que está alojada a informação que nos remete para a execução dos nossos hábitos. Na maior parte de nós, já duram há anos e é bem mais fácil responsabilizar os outros pelos resultados menos positivos que obtemos do que os colocarmos à nossa frente e os desafiarmos.
O que faz um forcado à frente do touro? Nunca ouvi nem um dizer que não tinha medo! O mesmo se passa com um alpinista, com um trapezista. O que eles fazem é dar relevância à superação.

Já repararam que na maior parte das vezes é muito mais fácil, por exemplo, entretermo-nos a olhar para os outros e zombarmos sobre uma determinada forma de vestir, sobre a cor do cabelo que adopta ou até mesmo sobre um determinado comportamento. Ai de quem nos disser que tivemos uma atitude menos apropriada ou termos feito algo mais bem feito! É bem mais fácil observarmos do que nos observarmos.

Crescer dói!? Depende da perspectiva. Se, para cada um de nós, o processo de mudança for tido como algo de baixas expectativas e estiver associado a um prejuízo, muito provavelmente será essa a percepção. Um fardo que se tem de suportar! Agora se for acolhido como um benefício e algo que vai proporcionar desenvolvimento, o caso MUDA de figura. O ânimo pode estar ali ao virar da esquina. Ah, mas é tão difícil, como a tal frase que me pronunciaram. Não é ela mesma uma desculpa? Se fosse fácil não era suficientemente motivadora; como é difícil é preferível mantermo-nos na zona de conforto.  

Focalize-se no que TEM e não no que lhe falta!

domingo, março 23, 2014

Auto austeridade afectiva


Em termos habituais, a nossa comunidade tem como paradigma que o modelo de prevenção para a saúde passa por fazer exercício moderado, abster-se de consumir álcool e/ou tabaco, adoptar uma alimentação tipo “dieta mediterrânica”, consultas periódicas ao médico, gestão do stress, evitar aditivos. Para os benefícios de tal conformidade serem alcançados, há que, durante décadas, manter estas e outras recomendações.
No entanto, não nos podemos esquecer que, a partir de uma idade mediana, as consequências do estilo de vida se fazem repercutir e serão tão mais impactantes quanto menos cuidados tivermos tido ao longo da jornada até aí percorrida.

Podemos reinventar a relação que temos com o corpo? Efectivamente, a maneira como pensamos acerca dele influencia a forma como o tratamos.  

Ao longo da história, o corpo tem sido, genericamente, relacionado com um destes tipo de modelo:

v     Uma colecção de elementos fornecidos pela Mãe Natureza;
v     A máquina;
v     A expressão da energia e vigor físico;
v     O templo da alma.

Conforme a tradição cultural em que estamos inseridos, assim poderá ser recomendado ao paciente que reze para cuidar das suas maleitas, o médico poderá prescrever um qualquer medicamento ou a pessoa ser aconselhada a fortalecer o fluxo energético (attention goes where energy flows). Na cultura ocidental, o conceito do corpo ser considerado uma máquina ainda tem uma significativa prevalência. As máquinas reparam-se e já está! Mas o nosso corpo não é definitivamente uma máquina. É algo vivo; tem a capacidade de se auto regenerar, auto regular. Por isso e a título de exemplo, o excesso de exercício físico pode ser contra producente se a conexão entre corpo-mente não for considerada. Ainda hoje há quem advogue que as desordens psico-somáticas têm origem na imaginação do paciente.

Os hábitos, as atitudes, as crenças são a chave para o bem-estar, pois as mensagens do cérebro afectam o corpo na sua totalidade. Há cada vez mais evidências desta percepção. É importante tomar medidas práticas de redução do stress, respeitar uma boa noite de descanso, evitar aditivos e/ou confiar na inteligência do nosso organismo.

Em vez de olharmos para o nosso corpo como um carro que, ao longo do tempo, será alvo de inevitável deterioração, poderemos vê-lo como um sistema de vasos comunicantes que aprende, se adapta e melhora com o passar dos anos. Para isso recomende-se a si própria (o) os seguintes inputs:

Seja mais relaxado e tolerante;
Procure o sentido dos valores;
Alimente as inter relações;
Realize tarefas que o façam sentir-se feliz;
Sinta-se confortável com o seu mundo interior;
Aceite-se a si própria (o);
Dedique tempo à diversão e tenha uma atitude descontraída;
Compreenda as suas emoções negativas…..


O corpo sinaliza e a mente analisa! Não se esqueçam " Mens sana in corpore sano!" Há quanto tempo nos andam a dizer isto?