Um estudo norte-americano de psicologia,
recentemente divulgado na revista Science, informou que, num universo de
200 pessoas entre os 18 e os 77 anos, a maioria preferiu desenvolver uma
actividade qualquer, que até podia ser a auto-aplicação de indolores e ligeiros
choques elétricos, a submeter-se a uma experiência de não fazer nada. Esta
consistia no pretenso objectivo de os participantes ficarem fechados numa sala
ou casa vazia e se dedicassem à arte de pensar. O tempo proposto foi de um
período entre 6 e 15 minutos. Um significativo número de voluntários preferiu
fazer algo, como ouvir música ou utilizar o smartphone. De realçar que
não terá havido diferenciação de resultados entre os habituais utilizadores de
aparelhos electrónicos e de redes sociais e os outros participantes. Uma
cientista sugeriu até que a “obsessão” com este tipo de experiências são uma
consequência e não uma causa. Ou seja, o efeito é a utilização de meios
externos para, eventualmente, nos dissociarmos da possibilidade de nos
questionarmos da raiz do problema interior.
A sociedade actual recompensa quem faz
várias coisas ao mesmo tempo, razão pela qual o exercício de concentração
(introspecção, meditação) nem sempre é visto como algo benéfico. O vazio, o
silêncio, a serenidade são, de alguma forma, ameaçadores, tal como tudo o que é
desconhecido. Há menor risco em nos envolvermos no e sobre o que já pensamos
conhecer. Se me fizer muitas e complicadas perguntas, sei lá eu o que vou
encontrar? Paralelamente a paciência não é requisito que, habitualmente, seja considerado.
Os resultados a curto prazo são mais facilmente reconhecidos do que os de longo
prazo, embora estes sejam, genericamente, bem mais satisfatórios. O que obtemos
a longo prazo é consequência de muitas e frequentes acções durante um
significativo período de tempo.
O simples facto de estar atento à forma
como habitualmente nos comportamos, permite constatar que a generalidade das
pessoas dá prioridade à urgência dos
assuntos desvalorizando a importância de
outros interesses. Quantas vezes por dia podemos ouvir “não tenho tempo”
e alguns até anunciam que “se dão muito bem em situações de stress”.
Nenhuma destas perspectivas, bem como outras semelhantes, se anunciam como
indicadores salutares. Antes pelo contrário! No entanto, por que razão há tanta
gente a insistir no mesmo?
Desde crianças que o apelo à acção é uma
realidade. De tal forma que a gestão energética do nosso organismo vai no
sentido de o desperdício ser evitado. No entanto, sabe-se hoje que o consumo do
recurso energia, tão fundamental para o ser humano, é muito mais significativo
quando é utilizada a capacidade cognitiva do que a física. Talvez por isso,
culturalmente e durante décadas, o mundo ocidental tenha estado distraído de
temas tão relevantes como aquele que nos foram revelados pelos antigos
filósofos gregos. Já lá vão 2500 anos! A famosa frase de Sócrates é disso
exemplo quando expressa a humildade de não se conhecer a si próprio: “só sei
que nada sei!”.
Colocar-nos em causa não é fácil. Há que
hierarquizar valores, convicções, compreender estados de espirito, refletir
sobre regras comportamentais. Isto tudo a nível individual, de modo a que
possamos encarar a nossa identidade. Contudo, é bem diferente o “não fazer
nada” da experiência supra mencionada ao que pode resultar do alheamento,
acomodamento ou evitamento relacionado com a recomendável tomada de decisão
sobre um qualquer assunto que requer solução. Vivemos na ilusão de que
resolvemos todos os nossos problemas através das reacções que temos junto de
quem ou sobre o que nos rodeia, quando a solução é mesmo apercebermo-nos de que
essas mesmas atitudes são reflexo de questões deficientemente equacionadas por
nós mesmos. As sensações negativas que possam surgir de determinada ocorrência
não são aplicáveis à própria experiência, mas antes à interpretação que, cada
um de nós, faz da mesma. Com inusitada frequência nos concentramos no efeito
desprezando a causa. O que pode estar na origem da minha irritação, frustração?
Bem vistas as coisas, não faz sentido que seja o comportamento da outra pessoa.
Mas no imediato, não é bem assim que a maioria interpreta o assunto.
O que poderá
provocar uma inquietude do ser humano durante um período de tempo tão curto
como o relatado na experiência supra mencionada e uma passividade generalizada
quando dá “de caras” com a necessidade de corresponder aos seus revelados
anseios?
Há diferença na
interacção que tem com os outros e com a que tem consigo?
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