Tem a felicidade uma raiz evolutiva? O que
poderá significar esta questão?
Foi na tentativa de dar uma resposta à
dúvida que a equipa do economista social Andrew Oswald, da
Universidade de Warwick (Reino Unido) concluiu, em 2008, que somos mais felizes no início de vida, sofremos
um pequeno retrocesso a meio da “curva da felicidade” e voltamos a arribar
quando somos menos jovens. Graficamente tem a forma de um U. Há que ter em
consideração que, nos anos antes da morte ou num período em que as funções
orgânicas já podem afectar, são a excepção.
Não havendo distinções raciais, de cariz
financeiro ou de género, é por volta dos 45-50 anos que nos sentimos menos
felizes. Não se saberá bem ao certo o que se passa, mas a consciência
comportamental ou a renúncia descomprometida e serena a alguns sonhos acabem
por nos influenciar numa fase mais adiantada da vida, bem como algumas atitudes
exploratórias e outras de carácter comprovativo nos verdes anos possam
hipoteticamente contribuir para este cenário.
Foi através de experiências com orangotangos
e chimpanzés que, este mesmo cientista se juntou ao psicólogo Alexander Weiss,
da Universidade de Edimburgo, e ao primatólogo Tetsuro Matsuzawa, da
Universidade de Quioto, para concluírem que, genericamente, o percurso da
felicidade dos símios é, em tudo, semelhante à curva dos humanos. Perceberam
também que, em ambos os casos, a felicidade proporciona um prolongamento dos
anos de vida e tem reflexos positivos na qualidade dos mesmos.
Foi com base nesta informação que colocaram
a pergunta inicial. Para além da vertente socioeconómica e das diferenças
demográficas e culturais das populações humanas, constata-se, com sustentação
em outros estudos, que o bem-estar tem muito a ver com a herança genética e o
meio envolvente. Por isto mesmo, nem tudo é possível transformar, mas há uma
significativa fatia do nosso ser que pode ser mudada. Para o testemunhar, veja
uma fotografia sua de há 10 anos atrás! Podemos sempre modificar a perspectiva
com que observamos os acontecimentos e participamos nas experiências.
Ainda bem recentemente, alguém na sua fase
crítica da curva da felicidade me dizia: “só agora me apercebi que não é por
ter dinheiro ou estatuto que vou ser feliz!”
Uma coisa parece ser certa. É que a receita que
me satisfaz, para além de não ser permanente, é exclusiva! Ao partilhá-la não
significa que, com quem o fizer, vá conseguir atingir os mesmos objectivos.
Atenção!
Somos naturalmente calibrados para sentir e ter
prazer na procura das mais intrínsecas motivações. O nosso organismo ajuda-nos
e contribui decisivamente para que não tenhamos que nos preocupar com a sua
gestão através da homeostase. O funcionamento dos órgãos é cuidadosa, minuciosa
e automaticamente regulado para que nos possamos dedicar a interpretar e
percepcionar o que os sentidos nos transmitem. O que aconteceria se todas as
funcionalidades orgânicas estivessem sob a nossa alçada consciente? Será que
nos poderíamos esquecer de activar o bater do coração?
Por exemplo, o que, genericamente, nos motiva na
aproximação ao sexo oposto? Os estudos indicam que há traços comuns aos homens
e às mulheres. A inteligência, a gentileza, a fiabilidade, a saúde, entre
outros. Mas há já mais especificidades se nos centrarmos nos homens e/ou nas
mulheres em exclusivo. Serão eventualmente universais as ambições destas para
preferirem homens trabalhadores e financeiramente bem sucedidos. Já os homens
tendem a realçar os atributos físicos bem como a considerar a idade das
pretensas companheiras. Embora não nos debrucemos frequentemente sobre o tema,
estes motivos são histórica e biologicamente fáceis de entender. A gestação é
um processo mais comprometedor para a mulher do que para o homem. Por essa
razão, a estabilidade e a segurança são factores a considerar. No caso do homem
está em causa a demonstração das suas capacidades competitivas. Já
era assim nos tempos das cavernas!
O que precisa para se
sentir feliz? Quais são os motivos que a/o impelem para a acção? É o alcance
deste sentimento inconsciente ou consciente?