O
recente e badalado falecimento de um “verdadeiro artista” do desporto
nacional e internacional, levou-me a ponderar como funcionava a
capacidade
pessoal de armazenamento de informação.
O cérebro humano tem uma característica específica apelidada de
plasticidade que lhe
confere uma flexibilidade extraordinária e que lhe possibilita uma
adaptabilidade às mais variadas circunstâncias. Estes factores, tal como
nos reservam momentos fiáveis documentados nas nossas
gravações neuronais, também podem distorcer dados que, em muitos casos,
damos como indiscutíveis e inquestionáveis. Ou seja, podemos ser
vitimas de “falsas memórias” e cujas consequências se podem revelar
algures incómodas.
Há
pessoas que, através de características de cariz hereditário ou de
treino específico para o desenvolvimento das suas capacidades, conseguem
reproduzir, com particular pormenorização, acontecimentos auto
biográficos de há 10 anos, por exemplo, com elevadíssimas percentagens
de exactidão, quando o que é vulgar é um ser humano ter dificuldade em
se recordar do que se passou há 1 mês e, às vezes,
nem isso.
Perante
estes dados, poderemos estar ou não perante capacidades de
armazenamento de recordações mais ou menos fiáveis em função de um
método
e/ou de particularidades inatas? Para o efeito, foram realizadas
experiências com voluntários cujos processos reconstrutivos eram
propositadamente diferenciados. O primeiro estudo consistiu em enunciar
listas de palavras relacionadas entre si: cama, ressonar,
insónia, cama. Os participantes teriam, mais tarde, de se lembrar do
maior número possível de palavras ouvidas. No final, a palavra sono que
não terá, propositadamente, feito parte da lista, foi referida como tal
em vários casos.
Num
segundo teste, foram apresentadas imagens que foram seguidamente
sequenciadas por frases faladas com o objectivo especifico de confundir
o que haviam visto e o que haviam ouvido. Aqui, a confusão foi geral! O
que foi referido verbalmente transformou-se em imagem e vice-versa.
A
conclusão das experiências foi que, independentemente das capacidades
de memorização serem extraordinárias ou vulgares, a possibilidade de
distorções nas percepções e perspectivas pessoais é uma realidade.
Somos todos falíveis! E mais: as diferenças reconhecidas nas
experiências entre os diversos participantes foram insignificantes.
Os
cientistas já alertaram os agentes de justiça para as consequências
deste tipo de contaminação da memória das testemunhas. E na sua vida
diária,
utiliza as suas recordações com muita frequência? E toma-as como
infalíveis? Tenha cuidado!
Quem
não se recorda de uma música, de um adereço ou de um pormenor que está
interligado a um acontecimento inigualável na nossa vida? Mas também
há aqueles que nos condicionam e só num determinado e específico
momento é que, de facto, tiveram lugar. Os factos são irrepetíveis; o mapa não é o território! Não é aconselhável transferir,
principalmente, a carga emocional de um acontecimento
para outro, como se se tratasse do mesmo. Corremos o risco de reagir
inadequadamente. Há sempre um espaço temporal entre a percepção do
estímulo e o momento de reacção. Esse intervalo pode ser revelador do
nosso nível de consciência e força de vontade.