Acontece que, por vezes e sem nos darmos conta, estamos a zurzir “como
fazer”, “como pensar”, “como dizer” aos ouvidos
dos outros. Em resposta ou à laia de observação podemos receber em troca “lá
estás tu com a mania dos sermões!” ou "tens a mania que sabes tudo?".
Já reparou que a ser o próprio a tomar essa iniciativa a sua pretensão
de aproximação e de auxílio se transforma exactamente na situação oposta. Por que
será?
Os conselhos só se devem dar se alguém nos pedir ou em casos que a
necessidade de ajuda se torna de tal forma evidente e relevante que há que
actuar. É esta máxima que utilizamos quotidianamente? A maior parte das vezes
não!
Nos mais variados escaparates encontramos, com muita facilidade,
“x estratégias para ser feliz”, “como emagrecer”,
“modelo para alcançar o sucesso profissional” e “receitas de
liderança”. Estes podem ser supostos títulos de livros ou slogans de
artigos televisivos com o intuito de nos divulgarem e ajudarem ao nosso
bem-estar.
Porém, acontece que os dias vão passando, as semanas consumidas e os
resultados não nos assistem.
Genericamente, a dúvida connosco não existe, mas fazemos sempre a
tentativa de nos reconhecer dizendo a quem nos rodeia como o devem fazer. E as
nossas dicas e soluções são infalíveis!? São, como os dizeres populares nos
ensinaram, vai por mim que eu não te engano.
Mesmo desde pequeninos ouvimos “se não comes a sopa toda….”.
Depois comemos a sopa toda e o que acontece? As tácticas milagrosas quase nunca
funcionam. Por que será? Não há nada a fazer?
É mais fácil mudar o meio ambiente que o nosso íntimo. Olharmo-nos ao
espelho é um exercício pessoalmente benéfico bem como pode originar reforçadas
e positivas energias interpessoais. Como alternativa à possibilidade de
decidirmos propor “como fazer”, “como ser” ou
“como se comportar”, por que não criar o espaço e o tempo para que
a outra pessoa interprete que a experiência por que está a passar poderá
requerer ajuda externa? Não é que o próprio não tenha recursos, antes pelo
contrário. Os resultados aparecerão certamente, exactamente porque os meios
existem; a questão relaciona-se em como e
quando utilizá-los. De uma forma
simplista, há que equacionar estratégias orientadoras sobre a autonomia do
outro, o desenvolvimento de competências e o compromisso individual para com os
objectivos definidos. Estes processos deverão, finalmente, ser alvo de
avaliações.
Numa primeira etapa (autonomia) é desaconselhada a imposição ou o
controlo dos acontecimentos. Não significa isto que se avance para uma situação
de laisser faire laisser passer, mas antes ponderar e equacionar opções
que se enquadrem, mais nos interesses do que nas necessidades, da outra pessoa.
Há que ser positivo nas escolhas!
Pergunte-se: porque motivo (motivação) certa e determinada escolha é
importante? Que benefícios face ao contexto actual?
Em vez de explanar os padrões pessoais no formato de conselho é
possível e preferível auxiliar na orientação de alternativas que se coadunem
com os desejos do outro na procura do bem-estar pessoal. Desta forma são os
padrões dele que são respeitados, não significando isso que quem ajuda se
descredibilize. Antes pelo contrário!
Apoiar e colaborar na experimentação permite que a escolha seja
sustentada na realidade pessoal. Voltando à infância, quantas e quantas vezes
somos condicionados ou, por iniciativa própria optamos por dizer “não
quero” ou “não gosto” sem se quer ter noção da prática. O condicionamento
extrínseco remete-nos para a insegurança e o retraimento perturba-nos a
auto-confiança através de uma atitude com peso negativo e, por vezes,
arrogante.
Sugere-se a criação de um contexto que facilite o desenvolvimento de competências,
a clareza de expectativas, um ambiente de coerência, um reforço de determinação
e consistência e, last but not least,
uma partilha de resultados através de feedback.