Algures no tempo, perguntei a uma pessoa conhecida
se mentia. Assim, de supetão! A resposta também foi instintiva. Não, não
minto! Depois de mais uma insistência, repetiu a informação
subconsciente que havia proclamado. A pergunta não era
específica acerca do modo de mentir. Era até muito vaga. No entanto, a
convicção ficou expressa. Quantas vezes por dia nos deparamos com esta
possibilidade? De simplesmente transmitir verbalmente uma opinião que
não está de acordo com as nossas sensações?
Talvez mais vezes do que pensamos e/ou gostaríamos mesmo de admitir.
As inter-relações têm diversas fases e diferentes
estágios de satisfação. Muitas vezes, um espelho daquilo que cada um
projecta para si próprio. Embora as pessoas não queiram ou não seja
“conveniente” dizer explicitamente o que sentem,
lá bem no fundo elas sabem instintivamente se a relação vai ou não
resultar. O conforto ou desconforto parece estar latente e tudo depende
da atenção e dedicação que lhe prestamos. Porventura, todo o sistema
cisma para que, cada de um nós, possa aprender e
retirar ilações dos sinais que nos chegam dos mais diversos lados e das
mais diferentes maneiras.
Na Universidade do Estado da Florida, 135 casais
heterossexuais disponibilizaram-se para uma experiência de 6 meses, com
posterior acompanhamento de resultados por 4 anos. Inicialmente, os
cônjuges deveriam avaliar verbal e
explicitamente a sua relação com o parceiro/a e a gravidade dos
problemas conjugais. A qualificação era feita com base em pares de
adjectivos opostos:
boa/má, satisfeito/insatisfeito. No entanto e ao mesmo tempo, os investigadores para obterem respostas
implícitas mostraram individual e separadamente, a cada
participante e por algumas fracções de segundo, uma fotografia do
cônjuge acompanhada de uma palavra de cariz positivo ou negativo:
fantástico ou sensacional, horrível ou dramático.
Nesta sequência, cada pessoa teria de premir o mais depressa possível
um botão para indicar a positividade e/ou negatividade da palavra
exibida, sendo este o método que permitiu medir
a atitude subconsciente e/ou implícita de cada participante.
As pessoas que têm sentimentos positivos em relação
aos outros respondem rapidamente quando há que transmitir esse estado
de espírito e muito lentas (hesitantes) a informar o contrário. Já as
pessoas com sensações negativas sobre os outros,
reagem mais rapidamente às palavras negativas do que às adjectivações
positivas. Todos desejamos ter inter-relações salutares e duradouras. No
entanto, as conclusões do estudo parecem querer fazer prevalecer que,
apesar de, por vezes, nos tentarmos fazer querer
o contrário, o subconsciente pretende encaminhar-nos para o que é
melhor através das reacções automáticas e instintivas. Sendo que, neste
particular, o cérebro não distingue o que é real ou imaginado; esta é
uma forma de através da repetição cada pessoa ir
construindo a sua aprendizagem. Compete a cada um avaliar uma eventual
reformulação dos hábitos utilizando a possibilidade de mudar o que não
se coaduna com os seus interesses.
Prosseguindo um dos intuitos da experiência, os
cientistas quiseram saber, de 6 em 6 meses, que tipo de relação os
participantes mantinham. Constataram que, passados 4 anos, aqueles que,
durante o período inicial haviam experimentado consequências
negativas eram os mesmos que agora reportavam maiores níveis de
insatisfação. Quando em algumas circunstâncias nos deparamos com
“sinais” biológicos e psicológicos desagradáveis, não sendo totalmente
confiáveis, não quer dizer que não contenham intrinsecamente
uma importância que devemos relevar.