Tente recordar-se de uma música ou tema que a/o transporte
para um momento especial, uma aventura que deixou marcas, um filme que foi
visto em circunstâncias pouco habituais e que teve um impacto considerável. Ou seja,
momentos marcantes de um passado que nos faz reviver acontecimentos muito bons
e menos bons, mas que fazem a diferença. Recorda-se de todos os pormenores? Não
temos, de todo, essa capacidade, apesar de os nossos comportamentos, na maioria
das vezes, reflectirem o contrário. É quase com uma certeza absoluta que relatamos
essas vivências como se fossem totalmente fidedignas. Isto, quando, por vezes, não
respondemos à pergunta: “o que jantaste
ontem?”
Mas são as nossas recordações dignas de crédito ou, antes
pelo contrário, podem ser uma armadilha ou estar mais perto da virtualidade do
que da realidade? Provavelmente, é há séculos que o ensino nas escolas acredita
que a lembrança existe. Como é ensinada hoje a tabuada? E os pronomes, os rios
e seus afluentes? Será que ainda é uma máxima ensinar para lembrar e lembrar para aplicar? É hoje sabido que a
memória não consiste numa lembrança pura do passado, mas é antes uma
reconstrução com micro ou macro diferenças. Já se propuseram recordar como uma
pessoa apareceu vestida num determinado evento? E experimentem fazer a pergunta
a diferentes mulheres que estiveram presentes? E como são as respostas
masculinas quando comparadas com as femininas?
Se tentarmos recordar o dia mais triste ou o mais alegre da
nossa vida, não vamos resgatar os mesmos pensamentos e reacções emocionais
daquele momento. Serão reconstruídas sensações próximas das experiências
iniciais, mas não exactamente as mesmas que, à data, foram sentidas. O que isso
pode demonstrar? Que não podemos fanaticamente verbalizar alegações
fundamentadas em pressupostos, mas também que a memória nos pode ajudar a
sermos criativos e promotores de novas ideias. Já Einstein afirmou: “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O
conhecimento é limitado. A imaginação circunda o mundo”.
O passado
é um alicerce para construirmos novas experiências, mas não para vivermos em
função dele. Quando nos recordamos de uma vivência com um amigo de infância,
uma brincadeira na escola ou um acontecimento de maior impacto emocional, essa
recordação nunca é uma lembrança
pura e absoluta. Será sempre uma reconstrução mais ou menos aproximada da
experiência original. As cores, os sabores, os cheiros influenciam o estado
emocional de cada um de nós, bem como o ambiente social em que estamos. E isto
não se repete! Se estivermos numa festa e recordarmos uma experiência de
rejeição, por exemplo, talvez sintamos apenas uma leve sensação ou, à
distância, até podemos achar graça ao facto.
A memória
não pode ser tida e encarada como uma máquina de repetição de informação, como
os computadores! É um centro de criatividade. Por isso, é importante alterar os
paradigmas de ensino e educacionais. As crianças, os jovens têm e devem ser preparados
para pensar e não para repetir dados através do uso das recordações. Até porque,
cada vez há mais informação. E como seleccioná-la? É fundamental compreendê-la
para depois se alcançar a sabedoria. Para tal é preciso saber interpretar e
perceber se as consequências, pessoais e colectivas, são ou não positivas. A boa
utilização da memória é importante para o seu bem-estar! Por isso, trate com a
devida vénia essa faculdade, mas não lhe dê excessivo crédito. Como em tudo, é
o equilíbrio que nos deve reger.
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