Por vezes, parece haver circunstâncias que
vão e regressam como o vaivém das ondas do mar. Ele há os ditames da
moda que, de quando em vez, fazem um regresso ao passado, ele há a
utilização de palavras que ciclicamente têm maior tendência
a ser proferidas, ele há “novas” atitudes que são resgatadas algures no
tempo, ele há estados de espírito que parecem revisitar-nos. Ou seja, a história parece querer repetir-se! Talvez por mera coincidência, talvez fruto do clima que se vive,
talvez decorrente do contexto social, ouço cada vez mais ou estou mais
atento à escassez que as pessoas invocam.
Foi recentemente que alguém me dizia, quando nos cruzámos: “ainda não
respondi ao que escreveste porque não tive tempo”; de uma outra vez:
“não vou ter tempo para ir ter contigo”; ou talvez uma mais comum:
“desculpa ter chegado atrasada/o, porque a minha vida
é uma correria”. Sinceramente, aprendi a dar uma relativa importância a
estas situações, apesar de, na maior parte das vezes, terem impacto na
vida dos outros. Não quando estamos a falar de uma atitude sem
consequências ou cujo resultado é muito semelhante,
mas mesmo naquelas situações em que há impactos menos positivos para os
intervenientes, inclusive para aqueles que invocam “falta de tempo”.
Por vezes, questiono-me: “será que esta postura não incomoda quem a
pratica?”. Penso que na maioria dos casos, também
não haverá tempo para parar e ponderar resultados. No fim de contas,
são eles que nos permitem avaliar o bem-estar de cada um de nós. Mesmo
naquelas circunstâncias em que somos atraídos para despejar os nossos
momentos menos positivos como responsabilidade
dos outros. Por favor, tirem o cavalinho da chuva. Olhem-se ao espelho,
que é um excelente conselheiro!
A medição do tempo é uma
invenção do homem. Talvez por isso já terão reparado que os relógios e
as ampulhetas só existem para orientação do ser humano. Qual a razão de
termos a necessidade de nos segmentar em
períodos da manhã, tarde ou noite? No entanto, seja ele qual for, temos
preferência por um deles. Para trabalhar, para tomar um copo, para ver
cinema, para ler. Mas depois, como todos estes períodos, adicionados,
têm uma extensão de
somente 24 horas, não temos tempo para ir ao ginásio durante 90
minutos dia sim, dia não; fica uma ida ao supermercado para mais tarde
porque surgiu um telefonema a requerer uma presença nossa; esquecemo-nos
de ligar à amiga ou ao amigo porque fomos
convocadas/os para uma reunião de última hora e tudo, mas mesmo tudo, é
um corre-corre. Não falando nos filhos, não falando nos amigos, não
falando nos familiares, há pouco tempo para dar um generoso e sentido
abraço cujo tempo pode durar 30 segundos. Mesmo
quando damos um abraço, se tomarmos atenção, parece estarmos com pressa
de desentrelaçar os braços……
Tendo o recurso tempo a
mesma dimensão para todos nós; sendo, muito provavelmente, o mais
democrático activo que temos ao nosso dispor; não me recordando de haver
alguém que o possa dispensar a outra pessoa, é
só nosso; quando se escoa, não há volta a dar, está perdido, não há
outra oportunidade; tendo o privilégio, como em poucas coisas, de o
utilizar subjectivamente e da forma que quisermos, sem que ele reclame
ou conteste; por enquanto ainda não paga imposto, a não ser as consequências daquilo que semeamos; mas também remetendo-nos para uma responsabilidade
de o sabermos utilizar eficientemente, como há pessoas para quem o
tempo nunca chega e outras que têm sempre disponibilidade? Mas quando
menciono disponibilidade não me refiro àquelas pessoas que estão sempre
dispostas e prontas mas que, por vezes e chegado
o momento, há algo que não permite assumir o compromisso.
Se aplicarmos o
princípio de Pareto ou a também chamada regra 80/20 podemos
empiricamente atestar que utilizamos somente 20% dos nossos recursos
para obter 80% dos nossos resultados. E que significado podem ter
os restantes 80% de recursos não utilizados?
PEQUENO EXERCÍCIO
Utilizando um lápis, divida uma folha de papel com uma linha vertical.
Do lado esquerdo, enuncie, pelo menos, 5 coisas que são as mais
importantes para si. Importantes, não urgentes!Comece na mais importante e continue!
Pessoas, coisas, ideias, actividades – seja o que for que é muito
importante para si e para o seu bem-estar. Por exemplo, família, saúde,
integridade, amigos, trabalho, igreja, animais de estimação,
ler.
Agora,
do lado direito, liste todas as coisas em que, diariamente, despende o
seu tempo, começando por aquilo em que gasta mais tempo e continuando
por aí abaixo. Por exemplo: trabalho,
família, dormir, missões, trabalho doméstico, ajudar os filhos, amigos, reuniões.
Está feito? Agora, serenamente, confronte as respostas. Há coincidências? Se não, há algo a rever, não lhe parece?
2 comentários:
Obrigada, Carlos Dores. Apreciei esta leitura.
Vi-me retratada, o que não é deveras agradável! Impõe-se agir.
Obrigado pelo espelho e boa semana!
Sofia Castro
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