Foi num recente e interessante artigo de jornal que retirei os
seguintes argumentos:
“Na aeronáutica,
usa-se o erro sem culpa, reporta-se o erro no sentido de o evitar. Na medicina,
esconde-se o erro e tenta-se arranjar desculpas para não o relatar” e
“É preciso
promover a comunicação entre todos num bloco operatório, dando uma uniformidade
de linguagem aos elementos da equipa, à semelhança do que também acontece na
aviação”.
Vêem estas declarações no âmbito de uma
parceria estabelecida entre comandantes de uma companhia aérea e profissionais
de saúde ligados às especialidades cirúrgicas. O objectivo era que médicos,
enfermeiros e restante pessoal ligado à área da saúde fomentassem e
compreendessem procedimentos e comportamentos dos pilotos de aviões no desempenho
da sua actividade profissional e tentassem transferi-los para os blocos
operatórios. Obviamente tendo em conta as devidas e necessárias adaptações.
Resta acrescentar que a probabilidade de
morte decorrente de uma ocorrência num acto cirúrgico é de 1 para 100 e a morte
num acidente de aviação é de 1 para 10 milhões.
Porque é que a vida, em diferentes
circunstâncias e contextos, tem mais ou menos importância? Até pela própria
comparação de preços entre uma operação e uma qualquer viagem de avião!
Recordo-me, quando criança, que na
escola primária havia uma tarefa semanal que pura e simplesmente me tirava do
sério. Todos os sábados (dia que frequentávamos só de manhã as instalações) os
alunos teriam de recitar uma pequena poesia que, em termos médios, seria mais
ou menos composta por 12/16 versos. A memorização total implicava passar
incólume a uma penalização de uma reguada por cada verso não decorado. Havia
quem, semana após semana, não decorasse nada! Errar, em qualquer cenário,
contexto ou circunstância não era tolerado. Mas ninguém se questionava sobre se
o método utilizado alcançava os objectivos ou se os resultados eram contrários
à compreensão do objecto de estudo, fosse ele qual se pretendesse que fosse!
Será que, hoje em dia, se passou de um
extremo para o outro sem que houvesse preocupação de experimentar o meio-termo?
Segundo a sabedoria popular é aí que reside a virtude!
Partamos do pressuposto que ninguém, na
posse de todas as normais faculdades mentais e físicas, actuará de uma forma auto-punitiva.
Faz sentido? Alguém pode ter atitudes menos aconselháveis para com terceiros,
mas como reflexo de estados emocionais mais ou menos ponderados. A perspectiva
consciente e inconsciente também influencia, e de que maneira, essas mesmas
repercussões.
Quando um erro acontece, na maioria das
vezes, decorre de um risco que alguém, numa tomada de decisão, entendeu
assumir. No fim de contas, a assumpção de um risco espelha a confiança que o
individuo deposita em si mesmo ou noutra pessoa.
Como quase em todas as situações de
vida, há 2 faces para uma mesma moeda, ou seja, uma versão positiva e outra
menos boa. Depende da perspectiva com que cada um de nós quer encarar a
situação. No 1º caso, o mais provável é que, numa próxima tentativa, os
resultados esperados sejam melhores, partindo do princípio que a falha não será
repetida e que houve uma análise e avaliação sobre o que correu menos bem.
É na constante focalização nos
resultados positivos que as pessoas se motivam e estimulam para o crescimento. Para
que isso aconteça, o erro não pode nem deve ser desperdiçado como factor de
desenvolvimento e prazer.
Já no 2º caso, a tendência habitual é
para desperdiçar energia, criticando e responsabilizando os outros, quer pelo
que fizemos ou não fizemos, quer pelo que devíamos ter feito e pelo que não
devíamos ter feito.
Que diferença pode fazer “Não percebes que não é assim..!”
ou “Certamente que alcançaste um resultado satisfatório, mas já pensaste
em fazer desta maneira?”
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